M. Night Shyamalan é dos poucos realizadores de «filmes de terror» a que não resisto. Depois de ler uma sinopse d' O Acontecimento, sabia que tinha que ver o filme e que ia gostar. Não me enganei. Lembrou-me Os Pássaros de Hitchcock. De alguma forma, há a mesma essência no fenómeno inédito que ataca e provoca a morte a seres humanos. A ameaça misteriosa, inesperada, fantástica, é ambiental. Pássaros ou plantas - reagem colectivamente a estímulos ambíguos, tornando-se perversos, «terroristas». A imaginação de Shyamalan é prodigiosa - faça-se um levantamento das modalidades de suicídio sequencial narradas no filme. E depois, por vezes, abre espaço ao kitsch: o "visual" macabro (a cena do zoo), as cenas patéticas e previsíveis (a mãe ao telefone, escutando em directo o acidente mortal da filha), a relação sentimental dos protagonistas. Mas até destes excessos eu gosto, enfim, de quase todos. No filme de Hitchcock, Mitch Brenner (Rod Taylor) e Melanie Daniels (Tippi Hedren), actores virtuosos, deixaram-me sempre, como casal, uma sensação de incompletude. O filme é estruturado à volta do acontecimento, não dando espaço ao desenvolvimento de outros temas, como a história de amor entre as duas personagens. A relação entre Elliot (Mark Wahlberg) e Alma Moore (Zooey Deschanel) também apresenta falhas. Mas aqui, não há a desculpa do argumento "saltar" fases na construção da relação. É pior que isso, Shyamalan desenhou uma relação do tipo infantilismo-evangelismo americano, logo, completamente desinteressante. Mas o filme não o é. Por tudo o que evoca e por tudo o que profetiza.
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