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31.3.07

As últimas leituras

A biografia de Sándor Márai é ela própria espantosa e trágica. Nasceu em Kassa, na Hungria, em 1900, e nos anos 30 era já um escritor famoso. Assumiu posições anti-fascistas e anti-comunistas. Foi perseguido. Sobreviveu à II Guerra Mundial mas em 1948 foi obrigado a exilar-se. Partiu para Itália, e daí para os EUA. Lentamente o seu nome começou a ser esquecido. Em 1923, Márai casou com Lola Matzner, judia. O casal teve um filho, Kristof, que morreu poucas semanas depois do seu nascimento em 1939. Não voltaram a ter mais filhos mas adoptaram outra criança, János. A sua obra, composta por dezenas de romances, além das suas memórias, permaneceu na obscuridade porque a tradução do húngaro não é frequente, e porque ele nunca permitiu que os seus livros fossem editados na Hungria durante o período de dominação soviética. Lola morreu em 1986, o que arrasou Márai. Janós, morreu com 46 anos, no ano seguinte. Desesperado, só, e completamente esquecido, Márai suicidou-se com um tiro na cabeça a 22 de Fevereiro de 1989. Nove anos depois, o seu trabalho é descoberto pelo escritor italiano Roberto Calasso. As notícias espalham-se depressa e muito rapidamente os seus livros começam a vender-se bastante em Itália e na Alemanha. Outros países se seguem. A obra de Márai renasce e volta a ser conhecida no mundo inteiro.

A Herança de Eszter (Public.Dom Quixote), que acabo de ler, é um romance muito particular, contado na primeira pessoa. A acção decorre em dois planos temporais: o primeiro num dia e o segundo, 20 anos depois. Antes de morrer, Eszter quer contar-nos a história do dia em que Lajos veio vê-la pela última vez e a roubou. A pureza e a comoção que caracterizam os sentimentos de Eszter, e a falta de armas de toda a sua família, face a Lajos, um sedutor sem escrúpulos, deixam o leitor (deixaram-me) irritado. Até que a desconcertante decisão final de Eszter se revela. e compreendemos o que é existir inteiro, sendo coerente com o nosso mais íntimo ser. "Lajos tem razão, Endre, Lajos tem razão ao dizer que na vida há uma qualquer ordem invisível e que devemos terminar o que um dia se começou... Como pudermos...Pois agora terminei - disse eu, e levantei-me." (pp. 145-146)

Do mesmo autor, terei que ler Como As Velas Ardem até ao Fim, outro dos seus romances já traduzidos, e que me dizem ser ainda mais belo.




Logo na sua estreia como romancista, ou seja, na publicação do seu primeiro romance, Silêncio (Public. Dom Quixote, 1981), Teolinda Gersão arrecadou o prémio do Pen Club português, no género ficção.

De uma forma distinta, tal como em A herança de Eszter, mergulhamos nos limites da incomunicabilidade, do autismo, no (des)encontro entre uma condição feminina e uma condição masculina, como se o tempo, o de Sándor e o de Teolinda, fosse o mesmo.

No romance A Árvore das Palavras (Dom Quixote, 1997), essa dicotomia volta a estar presente.

Foi interessante ler duas obras da mesma autora, escritas em períodos diferentes, com estruturas narrativas díspares (em Silêncio, a linearidade narrativa é interrompida, há decomposição, descontinuidade, circularidade, como se uma escrita na água; em A Árvore, um estrutura mais linear, uma trama coesa, a história de uma família num local e tempo definidos - a então Lourenço Marques, no início da Guerra Colonial), e observar a recorrência de temas: a imaginação, o sonho como evasão ou força transformadora do real, sempre associado à mulher, o desejo (in)contido de liberdade, as idas e voltas das relações interpessoais, em particular homem-mulher, e sempre, a busca, da identidade. Curioso também o papel da casa, como palco e como marca de uma condição de género ou de espírito, feminino/masculino, passivo/inquieto. A casa que oprime/protege, se ordena/desfaz. As janelas que se abrem ao mundo ou se fecham ao devir, encerrando o silêncio.

Leiam um estudo elaborado nos anos 80 por Eduardo Prado Coelho sobre Silêncio. Ou, para melhor compreender o universo da escritora, um artigo de Isabel Pires de Lima, a actual Ministra da Cultura que, caso não saibam, é doutorada em Literatura Portuguesa.


Diferente de tudo o que já lemos deste autor é Underground - O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa (Tinta da China Edições, 2006). Este livro de Haruki Murakami foi escrito entre 1997/98, e é composto por duas séries de entrevistas que realizou: a sobreviventes do atentado no metro de Tóquio com gás sarin, ocorrido na manhã de 20 de Março de 1995, e a vários membros da seita Aum ou Verdade Suprema (autora do atentado). No Japão, a segunda série foi publicada numa edição separada com o título O Lugar Prometido.

"No início de cada entrevista, eu pedia aos entrevistados que me falassem da sua história - onde tinham nascido, como era a sua família e o seu trabalho (sobretudo o seu trabalho) -, para poder dar a cada um deles um rosto, para os tornar visíveis. Não queria uma colecção de vozes sem corpo." pp 17-18

"Não decidi fazer estas entrevistas a actuais e antigos membros da seita para os criticar ou para os denunciar, nem sequer na esperança de que as pessoas os olhassem a uma luz mais positiva. O que estou a tentar transmitir com este livro é exactamente o mesmo que esperava transmitir em Underground - não um ponto de vista claro, mas sim material, de carne e osso, a partir do qual se possam construir pontos de vista múltiplos; e esse é o mesmo objectivo que tenho em mente quando escrevo romances." pp 331


Para descrever a sensação que tive ao ler alguns destes testemunhos, deixo-vos uma citação de Silêncio de Teolinda Gersão (os últimos dois parágrafos deste livro):

"Voltou para dentro e fechou a janela.
Havia dentro dele um ódio leve, que se estendia a todas as coisas do mundo"

30.3.07

À escuta #35

S - Eu não sabia que os grandes também tinham prisão de vento! Isso dá-me vontade de rir...
A - Olha, e tu por acaso sabes que a prisão de vento às vezes dói muito?

Programa Primavera

CNB
Foto de Pedro Conceição, 2006



No ano em que completa 30 anos, a Companhia Nacional de Bailado apresenta o Programa Primavera, quatro coreografias num programa único: The Vertiginous Thrill of Exactitude de William Forsythe, Dualidade de Gagik Ismailian, Passo Contínuo de Mauro Bigonzetti, Treze Gestos de um Corpo de Olga Roriz.

Ontem à noite estiveram no TA, no dia 31 vão estar em Leiria, estejam atentos à digressão. O programa é mesmo interessante, deixa-nos felizes, e com vontade de ter outra vez 6 anos, para nenhum constrangimento travar as piruetas e saltos de cavalo que insistem em soltar-se à saída da sala. Elas dançaram até cairem na cama...

Revi uma peça de Roriz que já tinha visto há anos na Fundação Gulbenkian e foi bom confirmar. mais do que a coreografia, nunca esqueço os cenários das obras da coreógrafa. por isso, talvez aprecie tanto Nuno Carinhas como a própria Roriz.


Treze Gestos de Um Corpo, peça concebida para 13 homens ou (como ontem) para um cast de 13 mulheres, inspira-se n' A Obra ao Negro de Yourcenar. Vocês sabem, "acontecia-lhe muitas vezes reabrir uma porta, simplesmente para se assegurar que não a tinha fechado atrás de si para sempre...".

Não apreciei em particular The Vertiginous Thrill of Exactitude de William Forsythe. O tutu futurista e o virtuosismo abrem bem a noite, mas eu contentei-me especialmente com o excesso de Passo Contínuo de Mauro Bigonzetti, e a vertigem e ilusão de Dualidade, de Gagik Ismailian. A peça de Bigonzetti, interpretada por Vera Alves e Christian Schwarm, é muito corporal, sentimos o pulsar dos dois, as correntes de energia, magnetismo, química, que se cruzam. É um bailado quase acrobático e muito poético.
Dualidade aborda o tema da paixão e da provocação, lança sedução, cor, tem um ritmo impressionante, é um espectáculo denso de surpresas... a começar pelo desenho de luz (Miran Susternic).

A CNB foi criada em 1977 por despacho de David Mourão Ferreira. Completa agora 30 anos e os corpos continuam iluminados.

Encontrei estas peças de Gagik Ismailian, se vos apetecer:
- Coreografia inspirada no livro de Paulo Coelho, Veronika decide morrer
- Coreografia criada para a Companhia de Bailado de São Paulo, Masks of time

Adeus e até ao meu regresso #8




"Women Only"! Discriminaçao positiva ou uma sinaléctica que ainda não compreendi.

Metro de Tóquio
Maio 2006

29.3.07

Noé

Graça Morais
Manufactura de Tapeçarias de Portalegre


Pronto, pronto, eu faço. Dá um trabalhão
mas faço. Corto madeira, arranjo pregos,
gasto o martelo. E o pior também:
correr o mundo a recolher os bichos,
coisas de nada como formigas magras,
e os outros, os grandes, os que mordem
e rugem. Eu sei lá quantos são!
Em que assados me pões. Tu
gastaste seis dias, e eu nunca mais acabo.
Andar por essse mundo, a pé enxuto ainda,
a escolher os melhores, os de melhor saúde,
que o mundo que tu queres não há-de nascer torto.
Um por um, e por uma, é claro, é aos pares
- o espaço que isso ocupa.

Mas não é ser carpinteiro,
não é ser caminheiro,
não é ser marinheiro o que mais me inquieta.
Não é poder esquecer
a pulga, o ornitorrinco.
O que mais me inquieta, Senhor,
é não ter a certeza,
ou mais ter a certeza de não valer a pena,
é partir já vencido para outro mundo igual.


in Analogia e Dedos de Pedro Tamen

O atentado de Tóquio #2

Estava a olhar para uma tesoura que tinha na mão e de repente assolou-me o pensamento de que algum adulto tinha trabalhado arduamente para a criar, mas que um dia ela acabaria por se desfazer. Tudo o que tem forma acaba por se desfazer. O mesmo se passa com as pessoas. Tudo está a caminho da destruição e não há caminho de volta. (...)

in Underground - O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa de Haruki Murakami
Ed. Tinta da China, 2006
pp. 335

28.3.07

Milagrar



Hoje, às 22h na Sala Vermelha do Mercado Negro, o Professor Luís Serrano vai milagrar Pedro Tamen que, por sua vez, milagrou Analogia e Dedos.

E esta ideia milagrou naquela tertúlia de que vos falei há dias... com o apoio do Pedro Jordão que anda a milagrar o MN. outras ideias estão na forja.


PS: click, para o caso de quererem conhecer a origem da palavra que eu adoro, milagrar.

O atentado de Tóquio

Murakami: Antes da guerra, alguns japoneses acreditavam que o imperador era uma divindade, e morreram por esta crença. Isto é aceitável para si? Que coisas estão certas apenas por acreditarmos nelas?

in Underground - O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa de Haruki Murakami
Ed. Tinta da China, 2006
pp. 339

Adeus e até ao meu regresso #4

Torre por torre, levo esta... que fica mais longe e sobe 9 metros mais alto. mas não tenho nada contra a original.


[Plano de baixo para cima]

Para não haver dúvidas de que esta não é a famosa Torre Eiffel
mas a Torre Vermelha de Tóquio, contemplem também o templo Zōjō-ji.


Minato, Tóquio
Maio 2006

A Torre foi aberta ao público em 1958

Adeus e até ao meu regresso #3



Torre Eiffel, Paris
Agosto 2005

Inaugurada na Exposição Universal de 1889
para comemorar os 100 anos da Revolução Francesa

Dia Mundial do Teatro #5

Este fio é a única coisa que me liga ainda à nossa vida.................Anteontem à noite? Dormi. Deitei-me com o telefone.........................não, não. Levei-o para a cama............Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama é porque ele, apesar de tudo, nos une ainda. Liga esta casa à tua casa e não te esqueças que me tinhas prometido falar. Imagina que mergulhei na confusão dos sonhos. A tua chamada transformava a campainha do telefone num som mortal e eu caía; depois, vi um pescoço branco que alguém estrangulava; depois ainda, achei-me no fundo de um mar que se parecia com o apartamento de Auteuil, ligada a ti por um tubo de escafandro e a suplicar-te que o não cortasses. Enfim, sonhos estúpidos quando se contam; mas o pior é que durante o sono eram demasiado vivos. Terrível, meu amor..................................................Porque tu me falas. Há cinco anos que vivo de ti, que és o ar que posso respirar, que levo o tempo à tua espera, a julgar-te morto quando te demoras, a morrer porque te julgo morto, a reviver quando entras e te vejo, a morrer com medo de partires. Neste momento, respiro porque me falas.

in A Voz Humana
Jean Cocteau

Dia Mundial do Teatro #4

Luís de Camões: É Vossa reverença o revedor do meu livro...
Frei Bartolomeu Ferreira: Eu sou. E hei-de vos dizer, posto que não tenha concluído ainda a segunda leitura, que não encontro nele coisa contrária à nossa santa fé. O mesmo, porém, não ousaria dizer no que toca aos bons costumes. Vossa Mercê por todo o lado introduz nudezas, e em tal excesso que fará da leitura um constante alerme dos sentidos.
Luís de Camões: São elas muito necessárias à minha fábula. Vossa Reverença bem sabe que os antigos deuses cuidavam pouco de roupagens, em particular as deusas, consoante as vemos costumadamente representadas em pinturas e estátuas. Também Eva, nossa primeira mãe, e Adão, nosso primeiro pai...
Frei Bartolomeu Ferreira: Mais devagar, senhor Luís de Camões. Adão e Eva viviam nus quando em estado de inocência. Logo que cairam em pecado, determinou o Senhor, enfim, não o determinou o Senhor, eles foram que viram que estavam nus e vestiram-se. Por forte razão, como vedes.

in Que Farei Com Este Livro?
José Saramago

Dia Mundial do Teatro #3

Winnie:... Pois é... assim eu pudesse suportar a solidão, quero dizer, ficar para aqui a pairar sem ser ouvida por ninguém. Não é que eu tenha ilusões, Deus me livre. Tu não ouves lá grande coisa, Willie. Há mesmo dias em que não ouves nada. Mas há também outros em que respondes. De maneira que eu posso sempre dizer de mim para mim, mesmo quando não respondes e talvez nem oiças: Winnie, posso eu dizer, há alturas em que alguém te escuta, tu não estás a falar só para ti própria, quero dizer, no deserto, coisas que eu nunca pude suportar - por muito tempo. E é isso que me permite continuar, continuar a falar, entenda-se. Enquanto que, se tu viesses a morrer, para falar à moda antiga, ou se te fosses embora e me deixasses, que havia eu de fazer então, que poderia fazer ao longo do dia, quero dizer, desde o instante em que a campainha toca para acordar até ao instante em que a campainha toca para adormecer?

in Dias Felizes
Samuel Beckett

Dia Mundial do Teatro #2

Criado: Senhor.
Director: Que é?
Criado: Está aí o público.
Director: Que entre.

in O Público
Federico Garcia Lorca

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

XLII

Sempre que atravessava aquela praça olhava a torre. Por vezes os sinos repicavam no exacto momento em que ela passava e então parava, sustinha os movimentos, hipnotizada. Uma torre assim nos Paços do Concelho era engraçado. Em vez de Deus, era o poder laico que ditava o horário, advertindo a população sobre o momento do despertar ou do recolher, ou apenas da pausa, das pausas, ou da necessidade de se apressar, de correr ao som do quarto de hora para não chegar atrasado ao encontro à hora certa.
Sempre que cruzava a praça, olhava para o relógio. gestos irreflectidos, de estender o braço, puxar a manga, olhar sem ver, quase, com a intenção arcaica de se certificar que o mecanismo continuava saudável. Ou fazia apostas infantis. chegaria à floreira antes do primeiro toque, dobraria a esquina antes da última badalada, ou adivinharia o exacto momento em que começariam os sinos a repicar. agora não, não, ainda não, agora sim... sem que tivesse alguma importância acertar ou não. Às vezes, compassava pensamentos ou palavras com o som.

Foi pois com uma alegria excessiva, despropositada, que aceitou entregar a encomenda naquele local. Logo à entrada do edifício, o segurança orientou-a. A secção que procurava ficava no último andar, deveria subir no elevador até ao segundo piso e depois ir a pé, utilizando as escadas à esquerda. Seguiu as instruções. Quando chegou ao lance de escadas, tosco, irregular, apertado, percebeu que estava precisamente no alto da torre. Como num velho castelo, equilibrava-se apoiando-se nas paredes. A meio percebeu uma porta mas decidiu não entrar. Os sinos estavam ali ao seu alcance. Continuou a subir. O corredor estreitava, os ângulos apertavam, até uma corrente de ar fresco ganhar corpo, adensar, e uma luz intensa quase a cegar. E de súbito, ei-los, gigantes, compactos, poderosos. Aproximou-se devagar, deslizou silenciosa pelas traseiras do primeiro, depois avançou, colocando-se entre os dois primeiros sinos, e estancou. O horizonte distante, o mar ao longe, e ainda o outro lado da baía, mais próxima a paisagem de telhados e arvoredo, até chegar à praça que conhecia tão bem, ali em baixo, com as suas floreiras e o empedrado geométrico. Subitamente levantou o pulso, procurou a hora que o seu relógio marcava e...


Todas as semanas saiem novos Princípios: às segundas n'O Afinador de Sinos, às terças aqui. Para ler sem interrupções, escolher um, e escrever o próximo Prémio Saramago, abram O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS.

Dia Mundial do Teatro. Propostas:

Daniel Radcliffe em Equus

... no Gielgud Theatre, se forem a Londres. Se não forem, tentem Lisboa. ou o Porto (enfim!)
Por aqui, a coisa não está nua, anda esfarrapada!
A vantagem de Londres é que podemos levar toda a família, e os mais novos até já conhecem Radcliffe, apesar de estarem mais habituados a vê-lo no papel de Harry Potter. mas isso não interessa nada!

Salazar, pois. Adeus e até ao meu regresso #2


Philippe Stark em Tóquio
(escultura a que os japoneses apelidam de "A Grande Merda")

Maio 2006

26.3.07

Salazar, pois. Adeus e até ao meu regresso.

Eu lembro-me de estudar as formas do "nacionalismo" no Japão, e a II Guerra Mundial ainda está tão presente, eu sei..., mas depois da votação de ontem no concurso Grandes Portugueses, decidi viajar para longe. Com sorte encontro o Haruki Murakami... numa destas pontes de Tóquio.



Maio 2006
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Há mais de 50 anos

A London news vendor
1939



O Tratado de Roma, assinado em 25 de Março de 1957, instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (Euratom). Mas esta celebração não pode esquecer a História que o precedeu e gerou.

As fotos são do fotojornalista Carl Mydans.


Wold War II Minister's meeting
Rome, Fascist
Italy, 1940



Wold War II - Near Verdun after the German breakthrough at Sedan
France, 1940



Wold War II - Collaborationist
Marseille, France, 1944



Wold War II - American and Filipino guerillas join forces in attack on Japanese
Northern Luzon, Philippines, 1945



Two german soldiers are captured near Saint-Tropez
in the liberation of southern France



Prime Minister Winston Churchill
Biggleswade, England, 1955

Diário da Guerra aos Porcos #4

Walter Stanish
Old men's game, 2005


Os rapazes montaram, como faziam todas as noites, a mesa de truco*, naquele café de Canning, em frente da praça Las Heras. O termo rapazes por ele utilizado, não deve fazer supor um complicado e subconsciente propósito de passarem por jovens, como assegura Isidorito, o filho de Vidal, antes obedece à casualidade de uma vez o terem sido e de, desde então, se designarem justificadamente desse modo. Isidorito, que não opina sem consultar uma doutora, abana a cabeça, prefere não discutir, como se o seu pai se estivesse a debater com a sua própria argumentação enganadora. Quanto a não discutir, Vidal dá-lhe razão. A falar, ninguém se entende. Entendemo-nos a favor ou contra, como matilhas de cães que atacam ou repelem um inimigo circunstancial. Todos eles, por exemplo - Vidal tinha o cuidado de dizer os rapazes, quando se lembrava - na mesa de truco passavam o tempo, divertiam-se, não porque se entendessem ou se dessem particularmente bem mas sim por obra e graça do hábito. Estavam habituados à hora, ao lugar, ao fernet², às cartas, às caras, ao pano e à cor da roupa, de modo que qualquer sobressalto estava, para o grupo, fora de questão.

in Diário da Guerra aos Porcos de Adolfo Bioy Casares
pp. 7-8


* Jogo de cartas com baralho espanhol
² Licor italiano à base de ervas