Os rapazes montaram, como faziam todas as noites, a mesa de truco*, naquele café de Canning, em frente da praça Las Heras. O termo rapazes por ele utilizado, não deve fazer supor um complicado e subconsciente propósito de passarem por jovens, como assegura Isidorito, o filho de Vidal, antes obedece à casualidade de uma vez o terem sido e de, desde então, se designarem justificadamente desse modo. Isidorito, que não opina sem consultar uma doutora, abana a cabeça, prefere não discutir, como se o seu pai se estivesse a debater com a sua própria argumentação enganadora. Quanto a não discutir, Vidal dá-lhe razão. A falar, ninguém se entende. Entendemo-nos a favor ou contra, como matilhas de cães que atacam ou repelem um inimigo circunstancial. Todos eles, por exemplo - Vidal tinha o cuidado de dizer os rapazes, quando se lembrava - na mesa de truco passavam o tempo, divertiam-se, não porque se entendessem ou se dessem particularmente bem mas sim por obra e graça do hábito. Estavam habituados à hora, ao lugar, ao fernet², às cartas, às caras, ao pano e à cor da roupa, de modo que qualquer sobressalto estava, para o grupo, fora de questão.
in Diário da Guerra aos Porcos de Adolfo Bioy Casares
pp. 7-8
* Jogo de cartas com baralho espanhol
² Licor italiano à base de ervas
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