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16.8.06

Tengo una canción para mostrarte



Actuação de Jorge Drexler no Teatro Solís de Montevideu - Salvapantallas

Tengo tu voz,
tengo tu tos,
oigo tu canto en el mío.

Rumbos paralelos,
dos anzuelos
en un mismo río.

Vamos al mar,
vamos a dar
cuerda a antiguas vitrolas.

Vamos pedaleando
contra el viento,
detrás de las olas.

Tengo una canción
para mostrarte,
talvez cuando vaya….

Tengo tu sonrisa
en un rincón
de mi salvapantallas.

Años atrás
de pronto la casa
se llenó de canciones.

Músicas y versos
que brotaban
desde tantos rincones.

Vamos al mar,
vamos a dar
guerra con cuatro guitarras.

Vamos pedaleando
contra el tiempo,
soltando amarras.

Brindo por las veces
que perdimos
las mismas batallas.

Tengo tu sonrisa
en un rincón
de mi salvapantallas.

[Do álbum ECO]

Se não conhecem ainda Jorge Drexler... aqui podem ficar a saber de quem é a culpa! Vossa, claro, e da Academia! :)


Vamos al mar. Fiquem bem!

Let the mornin' sun warm your bed while I'm a way



Happy Time


Ah, it's a happy time inside my mind
When a melody does find a rhyme
Says to me I'm comin' home to stay
Oh, Lord, home to stay
I'm comin' home to stay
Home to stay
Ah, lord, it's just the same old story
Something about love for glory
A nickel and a dime a dozen
Fame
Ah, it's such a shame
Ah, the way they use your name
Ah, you know it's such a shame
When it's only mine to sing a song
Hoping that you'd cross along my way
Before I have to move along
Ah, now move along
Ah, but I'll be back again
Ooh back again
Ah, it's a happy time inside my mind
When a melody does find a rhyme
Says to me I'm comin' home to stay
Oh, Lord, home to stay
I'm comin' home to stay
Home to stay
Sleep late now mama
Let the mornin' sun warm your bed
While I'm away
While I'm away


Canta Tim Buckley, aqui.

Bonne pensée du matin

À quatre heures du matin, l'étè,
Le sommeil d'amour dure encore.
Sous les bosquets l'aube évapore
L'odeur du soir fêté.

Rimbaud

15.8.06

De passagem. cronicando



Mes amis, mes amours,

O mau tempo anda a brincar comigo. Saio de França, onde pude sentir o dia mais frio de um mês de Agosto___ desde 1948, e entro em Portugal para sentir mais frio! Eu sei que quem cá esteve até agradece, mas eu anseio por um dia de calor intenso! Afinal, é Verão!

Percebi que com as altas temperaturas os incêndios voltaram a fazer notícia mas que, este ano, há maior controle da situação___ e das notícias. Até em França, a imprensa e os jornais televisivos preferiram as desgraças da Galiza (mas ainda vi Valongo na TV). Extraordinário é o facto de os gauleses andarem a contrariar a tendência mundial de redução do espaço florestal. Não que tenham escapado ao triste espectáculo das manchas de paisagem carbonizadas (sobretudo no Sul do país)! Acontece que o abandono maciço da agricultura está a resultar no aumento da área de floresta. Os rectângulos verdes, cultivados, que ordenavam a campagne française começam a rarear! C'est la panique!

Em pânico fico eu quando ouço os debates combates que antecedem as próximas Presidenciais em França. Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal encabeçam as sondagens. Ler Témoignage não me deixou mais tranquila. O carisma de Sarkozy é imenso e, se for eleito, vamos assistir a uma aproximação aos EUA (ele privilegia a Aliança Atlântica, sendo menos gaulista que Chirac no que diz respeito ao posicionamento político da França), além de que as políticas de imigração vão endurecer. Preferia mil vezes esta senhora mas a batalha não está ganha, mesmo dentro do PS!

Não percam estes vídeos__ (1) Emission: Karambolage - ArteRéalisateur: Claire Doutriaux; (2) Ségolène Royal en Suède, "où les patrons n'ont pas peur des syndicats"; (3) Environnement: Ségolène Royal défend "des choix de rupture". E, é claro, visitem o polémico___ porque muito democrático__ site de Ségolène Royal, Désirs d'avenir.

Como é evidente, os ataques de Israel no Sul do Líbano font la une em todos os jornais, todos os dias. (Agora não vou ser politicamente correcta:) Os franceses odeiam os israelitas! Todos sentimos esta trágica ofensiva como um ultraje aos valores mais profundos de humanidade, nunca esquecendo, é certo, uma mistura de medo e incompreensão face a todos os Partidos de Deus, mas em França, o sentimento de indignação face a Israel é antigo, muito intenso e generalizado a (quase) toda a população. Na memória fiquei com as palavras de uns amigos franceses que conheceram vários estudantes libaneses na universidade: eram estudantes, mas só pensavam na reconstrução do seu país após tantos anos de guerra, todos queriam regressar.

Ir a França e não espreitar os escaparates das livrarias seria sinal de grave doença. Pois bem, vim carregada de novidades. Deixo algumas pistas.

"Pour moi, l'âge n'a aucune importance. Depuis la nuit des temps, les hommes et les femmes s'aiment d'amour, quelle que soit la différence. Il n'y a pas d'amour impossible." Assim se lê na contracapa de Franz & Clara, o último livro de Philippe Labro. Une violoniste de vingt ans rencontre un gamin surdoué de douze ans... Situation d'amour impossible? Quem resiste? Dele li L'Étudiant Étranger, um romance com uma marca autobiográfica, que nos fala de uma América tão dourada quanto preconceituosa e da passagem à idade adulta de um jovem e inconsciente universitário. Na véspera deste encontro, pura coincidência, pude rever a figura de Labro na TV, apresentando uma biografia de Ernest Hemingway (na 3, um canal público que passa excelentes documentários em prime time!).

Entretanto, na minha livrariazinha de eleição em Roanne, descobri La Poursuite du Bonheur, um belo título para um livro que suspeito mordaz. É que o seu autor é Michel Houellebecq (um dos meus escritores preferidos, já aqui referido muitas vezes!). A novidade é que Houellebecq, neste livro, escreve Poesia. O primeiro poema chama-se Hypermarché, o segundo Non Reconcilié..., verei se resisto a tanta felicidade...

Mas a liderar o top ten de ficção está Marc Levy, um escritor que sigo desde o primeiro momento. Vivia em França quando ele lançou Si C’était Vrai... (traduzido pela Ed. Presença com o título Enquanto Estiveres Aí), livro que o catapultou de imediato para a fama ___e fortuna, uma vez que Steven Spielberg comprou os direitos cinematográficos do livro. Agora é Mes amis Mes Amours que arrebata crítica e leitores.

Mes amis, mes amours, vou embora que este relatozito já vai longo. À minha espera tenho agora o mar e, espero, um bom soleil português!

Nota umbiguista

Bem escrito, bem pensado, bem desenhado, bem escolhido, bem idealizado, “Divas e Contrabaixos” é um blog inteligente, culto, sensível, suficientemente dúbio para ser misterioso, suficientemente apaixonado pela escrita, o espectáculo, o “serviço público”, o desejo do desejo como aventura interior, suficientemente ancorado na Ria de Aveiro (terra de meu pai, nunca o esqueço!), suficientemente espantado com a vida para a cada palavra se conseguir surpreender. Acho a Rosário que o escreve e gere uma mulher a valer, daquelas em que vale a pena investir, na amizade e na cumplicidade.

E continua...


Pausa nas férias e recebo esta onda de elogios!
Muito obrigada, Lauro António!
Mas a onda é tão grande que me deixou com os cabelos todos à frente dos olhos e cheia de areia... :))

5.8.06

Foto MRF

Uma semana aqui. A palavra de ordem é: tranquilidade. Fiquem bem.

4.8.06

Vou andar entretida a ler II



O Mar, de John Banville, foi finalmente publicado em Portugal (ASA).

Talvez se recordem do fantástico Doutor Copérnico (Dr Copernicus) ou de O Livro da Confissão (The Book of Evidence), ou ainda dos romances Fantasmas (Ghosts), O Intocável (The Untouchable) ou Eclipse. Este último, sobre a vida de um ensombrado actor, Alexander Cleave, que, parecendo ter perdido a sua própria identidade nos conta a história da sua vida, deixou marcas.

O Mar ganhou o Booker Prize 2005. Sei que vou mergulhar.

Foi no dia da estranha maré que os deuses partiram. Durante toda a manhã, sob um céu turvo e opaco, as águas da baía foram engrossando, atingindo alturas jamais vistas. As pequenas vagas insinuavam-se pela areia crestada que anos a fio apenas a chuva humedecera e lambiam a base das dunas. O casco corroído do cargueiro encalhado ao fundo da baía há tanto tempo que já nenhum de nós se lembrava quando deve ter pensado que ia ser de novo lançado ao mar. Depois daquele dia, nunca mais voltei a nadar. As aves marinhas soltavam guinchos e desciam a pique, excitadas pelo espectáculo daquela imensa bacia de água que ia entumescendo como uma enorme bolha, de uma tonalidade plúmbea e de um brilho funesto. Naquele dia, aquelas aves pareciam estranhamente brancas. As ondas deixavam uma fímbia de espuma amarelada e suja ao longo da linha da água. Não se avistava uma vela de barco no horizonte distante. Não, nunca mais voltei a nadar.

Alguém caminhou sobre a minha sepultura. Alguém.

in O Mar, p. 7

Vou andar entretida a ler


O meu amigo R.R. dá-me sempre boas dicas para leitura e assim, este Verão, vou atirar-me ao Arno Gruen. A Loucura da Normalidade e A Traição do Eu (Assírio & Alvim) já esperam por mim no saco de viagem. Falsos Deuses é a outra obra do psicanalista que também já foi traduzida para português (Ed. Paz).

Quando uma criança começa a perder a consciência do seu Eu próprio, dá-se um acto de autotraição. (...) obediência e adaptação substituem-se à responsabilidade pelos próprios actos. (...) Quando uma pessoa perde o contacto com o seu interior, só pode recorrer a um Eu falsificado: a imagem que se pauta por determinado comportamento e por atitudes que agradam aos outros. A necessidade - e talvez mesmo obsessão - de preservar tal imagem, sobrepõe-se a tudo o que poderiam ter sido percepções, sentimentos e vivências empáticas genuínas. A incapacidade de estar enraizado em si próprio provoca um sentimento destrutivo e maldoso.(...)
Não sou o primeiro a debruçar-me sobre a destrutividade humana. Entre todos os seres vivos, o homem parece ser o único que destrói por destruir - como fim em si, pelas palavras do psicanalista finlandês Martti Siirala. Enquanto que Sigmund Freud ou Erich Fromm, por exemplo, atribuem a destrutividade humana ou a uma pulsão de morte inata ou a tendências necrófilas (...), penso ter encontrado muitos indícios de que os actos destrutivos e mortais do Homem têm origem na traição que cometeu contra si próprio, a fim de conseguir uma quota-parte de um poder que não passa de uma alucinação.

in A Loucura da Normalidade, pp 11-12

Ando entretida a ler...


Pourquoi Dieu ne disparaîtra jamais?
Chimie, structure.....tout dans notre cerveau nous pousse à croire en Dieu ! Et la foi est un parfait anxiolythique. Autant de révélations dues aux neurosciences qui montrent que l'avenir des religions est assuré.....

3.8.06

Vou procurar o meu lindo amor no fundo do mar

Isto é: Bocochê para vocês. Canta a Elis Regina. E eu ando assim, com vontade de cantar e chorar face à (amarga) doçura das coisas.

Menina bonita pra onde "quo´cê" vai
Menina bonita pra onde "quo´cê" vai
Vou procurar o meu lindo amor
No fundo do mar
Vou procurar o meu lindo amor
No fundo do mar

É onda que vai
É onda que vem
É vida que vai
Não volta ninguém

Foi e nunca mais voltou
Nunca mais! Nunca mais!
Triste, triste me deixou

(Nhem, nhem, nhem)
É onda que vai
É onda que vem
(Nhem, nhem, nhem)
É vida que vai
Não volta ninguém
Menina bonita não vá para o mar
Menina bonita não vá para o mar
Vou me casar com meu lindo amor
No fundo do mar
Vou me casar com meu lindo amor
No fundo do mar

(Nhem, nhem, nhem)
É onda que vai
É onda que vem
(Nhem, nhem, nhem)
É a vida que vai
Não volta ninguém
Menina bonita que foi para o mar
Menina bonita que foi para o mar
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá

(Baden Powell e Vinícius de Moraes)

Álbum: No Fino da Bossa. Gravações Originais. Vol.2

2.8.06

Cuidado com a doçura das coisas III

Meia hora depois Henri atravessou o prado. Estava um pouco triste e tinha pressa de reencontrar Catherine e de dormir junto ao seu corpo. Empurrou a porta de entrada, tirou as botas, colocou-as atrás da porta, acendeu a luz, e quase tropeçou no corpo nu de Catherine que estava deitada na escada, de olhos fixos no vazio.
- É a minha pateta que aqui está? - perguntou com uma voz que ocultava mal o medo que sentia, sentando-se com cuidado no degrau ao lado da cabeça dela. O que é que está aqui a fazer, assim, sozinha?
(...)
Levantou-a suavemente, ela fechou os olhos e deu-lhe a morder o punho, que ia empurrando e esmagando o nariz dele como um sinal de aviso, enquanto ele subia rapidamente a escada com o seu fardo.
(pp 85)

Cuidado com a doçura das coisas II

Catherine, sem ter ainda acabado o coelho e para lhe mostrar quão maravilhosa era a vida deles, falou ao marido nas framboesas com natas que viriam logo a seguir para a mesa; depois enquanto comia sofregamente as framboesas - já que nela a felicidade era nervosa e ávida -, apontou para as cadeiras meio ao sol meio à sombra, onde a seguir se poderiam aprazivelmente deitar os três durante a tarde, e talvez depois, por volta das cinco horas, tomar um chá para acompanhar os merengues. (...)
Os olhos de Henri assemelhavam-se aos do touro que vigia ao mesmo tempo a capa vermelha, roçando o chão, e o momento da estocada. De repente deu uma palmada no ombro de onde voou, calmo e ondulante, um mosquito que foi perder-se no ar.
- O estupor picou-me, disse. Saiu da mesa e deixou-as ali plantadas.
(pp 67)

Cuidado com a doçura das coisas

Entretanto, no andar de baixo, na cozinha, Catherine tinha trazido a cadeira para comer um cacho de uvas ao lado do marido.
- Hoje estás com a tua cara larga, hein? - disse ele esticando o queixo.
Catherine ocultou a vontade de rir sob um ar de criança repreendida. Henri tinha reparado que aquela pequena cara de mulher, ainda imprecisa, podia alongar-se ou alargar-se de um dia para o outro, sob o efeito do fígado ou do humor. Pegou nela ao colo, enquanto ela fingia só prestar atenção ao seu cacho de uvas.
- A minha mulher tem três tipos de cara: a cara comprida, a cara larga e... Qual é a terceira, afinal?
Catherine não queria responder. Pretensamente confusa, pestanejava e fazia trejeito de amuo.
- Diz lá qual é a tua terceira cara, franganita.
-... É a minha cara horrorosa, balbuciou Catherine.
Desataram a rir, beijando-se e batendo-se como sempre que ele a obrigava a confessar a existência dessa terceira cara. Acabou tudo num longo beijo, ali, no meio da cozinha, e Catherine transformou-se em hera, com pequenas mãos por todo o lado.
(pp 72)

1.8.06

Desperate couples

Isto está terrível! Uma miúda chega de férias (curtinhas)(mas vai haver mais) e descobre que o amigo A se vai divorciar e que a amiga B já o fez. Ele diz que nunca mais se vai casar, que ninguém se vai apaixonar por ele, e "ninguém" é alguém por quem ele também se apaixone, e ela diz que nunca esteve tão bem, que agora cada um tem a sua vida, mas ainda se reunem ao jantar, que ela confecciona, pois, pelos filhos. O amigo do amigo diz que para as mulheres é sempre pior, sobretudo quando há filhos; a amiga da amiga diz que quem se tramou é o ex-marido que agora é que vai dar o devido valor à ex-mulher. Os dois concordam que os filhos são uma prioridade. Os dois nunca vão esquecer o ex-cônjuge. Mas tem que ser.

E depois, isto está terrível! Uma miúda chega de férias (curtinhas)(mas vai haver mais) e percebe que todos os casais juntos há mais de 10 anos, se não menos, se não muito menos, se suportam. às vezes com muito esforço. ponto final. Aquele diz que nos devemos deixar de ilusões, as paixões acabam, a rotina mata, (com sorte) a ternura é doce, a cumplicidade compensa, e ir vivendo assim assim é uma arte. Outro diz que nada disso contenta, e até destrói. Mas que a cobardia impera. Enfrentar o toiro pelos cornos (ou não). com ou sem alternativa. this is the question my friend!

Sem nunca desacreditar que o amor é eterno (enquanto dura)

(ou antes de chegar).

Como o Brel, acho que nos apaixonamos pelo amor, mas nunca verdadeiramente pelas nossas mulheres ou pelos nossos homens. É terrível, mas os amantes ficam sempre aquém da sua-nossa ideia de amor. É terrível, uma miúda chega de férias (curtinhas) e pensa que tem que haver mais, muito mais que isto, na merda da vida!