O Mar, de John Banville, foi finalmente publicado em Portugal (ASA).
Talvez se recordem do fantástico Doutor Copérnico (Dr Copernicus) ou de O Livro da Confissão (The Book of Evidence), ou ainda dos romances Fantasmas (Ghosts), O Intocável (The Untouchable) ou Eclipse. Este último, sobre a vida de um ensombrado actor, Alexander Cleave, que, parecendo ter perdido a sua própria identidade nos conta a história da sua vida, deixou marcas.
O Mar ganhou o Booker Prize 2005. Sei que vou mergulhar.
Foi no dia da estranha maré que os deuses partiram. Durante toda a manhã, sob um céu turvo e opaco, as águas da baía foram engrossando, atingindo alturas jamais vistas. As pequenas vagas insinuavam-se pela areia crestada que anos a fio apenas a chuva humedecera e lambiam a base das dunas. O casco corroído do cargueiro encalhado ao fundo da baía há tanto tempo que já nenhum de nós se lembrava quando deve ter pensado que ia ser de novo lançado ao mar. Depois daquele dia, nunca mais voltei a nadar. As aves marinhas soltavam guinchos e desciam a pique, excitadas pelo espectáculo daquela imensa bacia de água que ia entumescendo como uma enorme bolha, de uma tonalidade plúmbea e de um brilho funesto. Naquele dia, aquelas aves pareciam estranhamente brancas. As ondas deixavam uma fímbia de espuma amarelada e suja ao longo da linha da água. Não se avistava uma vela de barco no horizonte distante. Não, nunca mais voltei a nadar.
Alguém caminhou sobre a minha sepultura. Alguém.
Talvez se recordem do fantástico Doutor Copérnico (Dr Copernicus) ou de O Livro da Confissão (The Book of Evidence), ou ainda dos romances Fantasmas (Ghosts), O Intocável (The Untouchable) ou Eclipse. Este último, sobre a vida de um ensombrado actor, Alexander Cleave, que, parecendo ter perdido a sua própria identidade nos conta a história da sua vida, deixou marcas.
O Mar ganhou o Booker Prize 2005. Sei que vou mergulhar.
Foi no dia da estranha maré que os deuses partiram. Durante toda a manhã, sob um céu turvo e opaco, as águas da baía foram engrossando, atingindo alturas jamais vistas. As pequenas vagas insinuavam-se pela areia crestada que anos a fio apenas a chuva humedecera e lambiam a base das dunas. O casco corroído do cargueiro encalhado ao fundo da baía há tanto tempo que já nenhum de nós se lembrava quando deve ter pensado que ia ser de novo lançado ao mar. Depois daquele dia, nunca mais voltei a nadar. As aves marinhas soltavam guinchos e desciam a pique, excitadas pelo espectáculo daquela imensa bacia de água que ia entumescendo como uma enorme bolha, de uma tonalidade plúmbea e de um brilho funesto. Naquele dia, aquelas aves pareciam estranhamente brancas. As ondas deixavam uma fímbia de espuma amarelada e suja ao longo da linha da água. Não se avistava uma vela de barco no horizonte distante. Não, nunca mais voltei a nadar.
Alguém caminhou sobre a minha sepultura. Alguém.
in O Mar, p. 7
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