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5.3.08

Cine Eco em Movimento


“A deusa grega Deméter deu a agricultura à humanidade. Desde então ela tem dado sucessivas novas formas à natureza.” Começa assim um novo capítulo na História da Humanidade, a História que nos é narrada em OS CAMPOS DE DEMÉTER – AS ESTAÇÕES DE ANO NA PAISAGEM EUROPEIA DA CULTURA, filme que passará no Teatro Aveirense, hoje, às 21h30. O professor (biólogo) e realizador norueguês Knut Krzywinski viajou e filmou a paisagem de sete países da Europa mas, quando o conheci em Seia, por ocasião da XIII Edição do CineEco - Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente da Serra da Estrela, ele não quis revelar que países eram esses. No filme, as paisagens também não são identificadas por nacionalidade. “São países europeus” - disse, e aconselhou-me o website do filme. Acabei por reconhecer alguns lugares, como a Serra da Estrela ou o Parque Natural Sintra-Cascais, em Portugal, reencontrei países que já visitei, mas sobretudo, compreendi o mistério: “Os Campos de Deméter” remete-nos para além do presente e do que é óbvio.
«Quando olhamos para o campo e nos maravilhamos com a sua beleza natural, vale a pena lembrar uma coisa - esta paisagem está longe de ser natural. O que nós estamos a ver, para o melhor e para o pior, é uma paisagem que foi profundamente alterada por gerações de intervenção humana, em particular por antigas práticas agrícolas.
Na Europa, a relação com a terra e a paisagem sempre foi governada pela existência humana. Os habitantes de grutas do Paleolítico, há 40.000 anos, viviam num ambiente que não podiam controlar: no entanto, com a introdução da agricultura esta relação mudou e, através dos milénios que se seguiram, uma combinação de forças naturais e culturais modelaria as paisagens da Europa.(...) A ideia de natureza como algo para ser dominado e conquistado desenvolveu-se enquanto economia e a tecnologia tornou atingível o seu controle absoluto. Esta é a origem de muitas calamidades contemporâneas como a perda de biodiversidade, a poluição, a deterioração geral do ambiente e, acima de tudo, a nossa alienação da natureza. Desde meados do Século XX a agricultura mudou dramaticamente. Nas terras apropriadas, a agricultura intensiva e as monoculturas substituíram a agricultura tradicional, de pequena escala, enquanto nas áreas marginais e isoladas a terra é normalmente abandonada, uma vez que não pode competir com a agricultura intensiva. O abandono é muitas vezes seguido pela invasão do matagal e eventualmente florestação. O aumento do desequilíbrio do uso da terra – reflectido na dupla ameaça da intensificação e do abandono – resultou na erosão das paisagens culturais tradicionais e a sua característica diversidade de habitats e de espécies.»
Este filme é um projecto ECL-European Cultural Landscapes (http://ecl.cultland.org/) que tem por objectivo sensibilizar a população para a necessidade urgente de proteger o património que é nossa paisagem cultural, através da agricultura e utilização da terra sustentáveis. Foi neste site que descobri a sinopse de “Os Campos de Deméter”. A esta abordagem, Knut Krzywinki e Graham Townsley acrescentaram bagos de mitologia, poesia e imagens de imensa beleza. No CineEco' 07 foram-lhe atribuídos dois prémios: o Prémio Educação Ambiental pelo Júri Internacional e o “Prémio Especial” pelo Júri CineEco em Movimento, de que fiz parte. Sou suspeita, pois. Mas não perderia este filme... logo à noite, no Teatro Aveirense, ou no dia 13 de Março, às 22h, no Mercado Negro.
Para consultar toda a programação deste Festival que apresentará 37 filmes ao longo do mês de Março, consulte o blogue “
Extenção do CineEco em Aveiro”, o site do TA ou as agendas culturais da cidade.


[Artigo publicado no Diário de Aveiro de 5/03/2008]

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