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Este fim de semana...
... de 29 de Junho a 1 de Julho, começam as vendas ao quilo na Vista Alegre. No fim de semana seguinte, de 6 a 9 de Julho, acontecem as Festas da Vista Alegre.
Entradas livres no Museu Histórico e na Exposição temporária. Visitas guiadas gratuitas à Fábrica. Comes e bebes no largo da Fábrica. Feira Popular.
Toda a programação pode ser consultada aqui.
Fotos MRF
Junho 2007
[Clicar nas imagens para aumentar]
7 maravilhas
qual o destino dos corpos,
pergunto-me,
depois de mastigados pelas horas,
pelos gestos, desde o nascer do sol?
qual o destino dos corpos para além da deterioração,
ou logo antes dela?
qual o destino dos corpos entregues ao amor?
que destino terão depois de deixarem de ser o que são
para transformarem-se num outro
temporário e divino?
qual o destino nostálgico,
a melancolia bruta,
se nunca mais podem ser os deuses que um dia foram?
qual o destino dos corpos abandonados
pelos seus donos
sem propósito ou sentido,
quando nada mais desejam
senão serem o que são
e exercerem-no na sua glória?
silvia chueire
Um dos votos da Angie, do blogue As minhas cores, foi para o Divas & Contrabaixos. Estou a falar-vos do (novo) Concurso, 7 Maravilhas da Blogosfera. Se quiserem participar, leiam aqui o regulamento. Cabe-me agora votar, nomeando 7 blogues!
A primeira nomeação já está feita: é para a Silvia Chueire do In the meadow que vê o Corcovado todos os dias. A bordo também é obrigatório. Ali li: «Há vários caminhos. Um o do silêncio. Mas pensemos bem. O silêncio é por definição irreal.» Por isso viajamos em palavras.
Em Uma História de Amor e Trevas, Amos Oz escreve: «Ele talvez não seja um homem muito bom, mas pelo menos sabe fazer a distinção entre o que é bom e o que é mau, e que não temos escolha.» (pp 89-90). Referia-se a Yosef Agnon. Deixo cair a (in)bondade e pego no critério para seleccionar mais alguns blogues:
Raízes e Antenas
Plan(o)alto
Passado/Presente
O que cai dos dias
Raim's blog
E obrigada, Angie!
Donas
A iniciativa do Concurso é da Marta F e fui nomeada pela Senhora Sócrates. Lembrei-me logo de uma passagem do livro que ando a ler de Amos Oz. Ele evoca um diálogo em que um famoso poeta israelita, depois de ter sido interrompido pela esposa, na década de 40, lhe terá dito: «Agradeço que permitas que eu seja o dono da casa enquanto as visitas cá estão. Quando elas se forem embora, serás tu a dona.»
Simone Villas-Boas do [correio electrônico]
As cuscas todas do Cusquices de gajas
Ana do Deliciosamente em Surdina
M do Detesto Sopa
JP do Faz de Conta
Obrigada, Dona!
As nomeações devem ser enviadas para aqui.
26.6.07
BS #7 Lady sings the blues
BILLIE HOLIDAY
EMBRACEABLE YOU (Gershwin/Gershwin)
CHEEK TO CHEEK (Irving Berlin)
THE VERY THOUGHT OF YOU (Ray Noble)
MY MAN (Charles/Pollack/Williametz/Yvain)
Fotos de William P. Gottlieb, The Golden Age of Jazz
Suggia
A Associação Guilhermina Suggia e a Câmara Municipal do Porto têm a honra de o convidar a assistir à colocação de uma placa evocativa na casa onde viveu e morreu a Grande Violoncelista – Rua da Alegria, n.º 665, Porto. A placa, da autoria da Escultora Irene Vilar, será descerrada no próximo dia 27 de Junho, às 18.30 horas.
GUILHERMINA SUGGIA viveu nesta casa de 27 de Agosto de 1927 a 30 de JULHO de 1950. Amanhã, 27 de Junho, comemora-se também o dia do 122º aniversário do seu nascimento.
Se ainda não sabem quem foi esta ilustre portuguesa, consultem o site da Associação que se dedica ao estudo e à divulgação e dignificação do espólio, da arte e da memória da violoncelista, ou a biografia da artista na página do Instituto Camões, escrita por Fátima Pombo, autora da obra "GUILHERMINA SUGGIA ou o Violoncelo Luxuriante".
25.6.07
Museu Berardo
«A pertença a uma rede não é uma simples formalidade. Deve estar dependente da avaliação cuidada e regular do cumprimento de obrigações de serviço público, entre as quais se conta, sem dúvida, a formação de públicos. Por isso, todos os equipamentos dependentes do Ministério da Cultura e todos os equipamentos integrados em redes nacionais devem proporcionar programas educativos, dirigidos aos diferentes públicos, quer se trate de crianças, jovens, adultos ou cidadãos seniores.»
«Ainda hoje, durante os discursos de abertura, Joe Berardo deverá anunciar isto: que todos os funcionários públicos portugueses, tal como os sócios de qualquer clube de futebol da primeira liga, terão entrada livre até Dezembro. Serão parte dos 400 mil visitantes que o museu espera fazer por ano.
"Ninguém vai poder dizer que não vem ao museu por falta de dinheiro", dizia na semana passada Joe Berardo.»
A decisão profundamente pedagógica de Joe Berardo resultou comigo. Vou já inscrever-me num clube de futebol. Sabemos como os portugueses se interessam pouco pelo desporto-rei e convinha mesmo que, finalmente, aparecesse um homem capaz de gratificar e conferir estatuto àqueles que com tanto sacrifício pagam as quotas nos seus clubes de eleição. Era triste se ele se tivesse lembrado de premiar os associados de qualquer biblioteca da Rede Pública de Bibliotecas, ou os cineclubistas, ou os "Amigos" dos museus e teatros municipais de todo o país! Os museus de arte contemporânea não devem estabelecer relações com actividades que só interessam a meia dúzia de pseudo-intelectuais e a uma minoria de estudantes! Além de que os Ministérios da Educação e da Cultura já têm o seu Plano Nacional de Leitura, a música já foi inserida nas escolas do 1º Ciclo como AEC obrigatória, etc., etc., e quaisquer outras formas de associativismo são marginais! Sinceramente, o Joe Berardo é magnânimo!
24.6.07
Because the night belongs to lovers
[This one is for you, Paula]
22.6.07
Qu'est-ce que...
O novo livro e o álbum TWELVE de Patti Smith chegou a França. Ela também, para actuar no Olympia. Tem 60 anos mas ainda se emociona com a vida. Na sua primeira viagem a Paris, com a irmã, ao passar pelo boulevard des Capucines fotografou o mais antigo Music Hall da cidade e era Edith Piaf que actuava. Sorri. Se lhe dissessem que um dia cantaria no Olympia, não acreditaria.
Uma dezena de escritores apresentando os seus romances, discutindo o (seu) mundo e motivações, revelando indícios de ficções ou memórias escritas. Max Gallo, Jacques Séguéla, Eric Emptaz.
Um debate sobre alta competição desportiva e doping. Com Jacques Attali, Eric Besson, Pascal Bruckner, Bernard Stiegler, Jacques Julliard, Laurent Joffrin, Michel Wieviorka, Sylvain Bourmeau e Philippe Tesson, que também apresentaram os seus livros recentemente editados.
Uma entrevista a Alain Finkielkraut que falou sobre o nosso tempo. de ingratidão, face às heranças do passado. do tempo em que as línguas latinas derivam, com a nossa aprovação, pela crença no progresso. do tempo em que não se chora a perda de (bons) hábitos, dado o deslumbramento pela inovação. do tempo em que os líderes políticos se exibem fazendo jogging para vender uma imagem de juventude e vigor. mesmo se a juventude não é uma qualidade mas uma característica, e o vigor, em política, uma arte. Churchill ou Roosevelt resistiriam a estes tempos de jogging político? Ninguém tem saudades dos tempos das longas e pausadas caminhadas?
Às quintas, na TV5 Monde. E eu pergunto: "Qu'est-ce que le Portugal?" Putain!
Obscena
Sai um pouco mais tarde do que é habitual. Mas este mês, hoje mesmo, a Obscena é editada pela primeira vez em papel. Antes, havia a possibilidade de a ler em pdf.
"É um número especial, gratuito e relativo aos meses de Junho e Julho, que responde ao desafio lançado pelo Festival Internacional de Teatro de Almada, de associar a OBSCENA à 24ª edição deste Festival, que decorre de 4 a 18 de Julho."
21.6.07
Novo romance de Abel Neves
A Editora Sextante (ex-Sudoeste) lançou um novo livro. O autor: Abel Neves. Depois de "Asas para que vos quero", um retorno à sua aldeia, Pitões das Júnias (Parque Nacional da Peneda-Gerês), em "Cornos da Fonte Fria". A escrita de um romance sobre geografias, a da terra e a dos homens.
A capa do livro é da Oficina do Design (Henrique Cayatte). Conceito fantástico!
Extensão da provocação #3
Para alcançar o objectivo, outrora filosófico, a que me proponho, preciso de desbravar caminho. Simplificar. Destruir a camada de pormenores, um por um. Serei talvez auxiliado pelo simples jogo do movimento histórico. O mundo uniformiza-se mesmo debaixo das minhas barbas. Os meios de comunicação progridem; o recheio dos apartamentos enche-se de nova tecnologia. As relações humanas tornam-se progressivamente impossíveis, o que reduz igualmente a quantidade de anedotas com as quais se compõem a vida. E, aos poucos, a figura da morte aparece em todo o seu esplendor. O terceiro milénio aproxima-se sob este presságio.
Michel Houellebecq
in Extensão do Domínio da Luta
Ed. quasi, pp 17
Para Michel Houellebecq, este é o romance da aprendizagem do desgosto. Foi o seu primeiro romance (editado em 1994) e nele já é evidente o seu desencanto com a humanidade e o desespero de viver todos os dias num mundo que promove a massificação do indivíduo. O narrador desta obra, como depois em Partículas Elementares, Plataforma, ou A possibilidade de uma Ilha, é um homem doente de solidão. E, como todos os seres humanos, pode ser cruel. Neste livro em particular, a escrita literária vem representar um espaço privilegiado de manifestação da subjetividade (em "A Possibilidade..." é a escrita humorística que assume esse papel). Como se, na ficção, o indivíduo sozinho pudesse triunfar, concentrado apenas na experiência do existir.
Imagem de Jean Sébastien Monzani, série Still Travelers
Casa a mexer IV
20.6.07
À escuta #41
Adenda: As minhas filhas, como a maior parte das crianças, acabaram por se aperceber do desaparecimento da menina no Algarve, o que as deixou um pouco assustadas. Agora que se fala menos do assunto, elas ainda não esqueceram, e perguntam-me sempre se ela já apareceu. Mas esta ideia que ela foi buscar na televisão preocupa-me. Não sei se é verdade ou não, mas não estranho que num programa qualquer ela tenha ouvido isto. Uma pulseira para dar sorte! É claro que ela aderiu à ideia, cheia de ternura. Os casos como a Maddie são terríveis porque revelam a nossa impotência face à loucura humana, mas "ensinar" a reagir com uma pulseira da sorte não me parece correcto. Este post revela o meu espanto (e adoração) pela minha filha, mas também foi atravessado pela raiva da inculcação da mezinha na cabeça de uma menina.
19.6.07
BS #6 Summertime
Porgy lived in the Golden Age. Not the Golden Age of a remote and legendary past; nor yet the chimerical era treasured by every man past middle life, that never existed except in the heart of youth; but an age when men, not yet old, were boys in an ancient, beautiful city that time had forgotten before it destroyed.
Summertime é o nome de uma ária composta por George Gershwin para a ópera Porgy and Bess. A personagem Clara canta-a no Acto I e II, Bess canta-a no Acto III. A letra da canção foi escrita por Ira Gershwin e DuBose Heyward. Heyward é o autor do romance, Porgy, e da peça com o mesmo nome, que escreveu em parceria com a mulher, Dorothy Heyward. A peça estreou na Broadway, no Guild Theatre, em Outubro de 1927 (e teve 367 exibições). A ópera de Gershwin, uma nova adaptação do drama passado na Catfish Row, foi criada em 1935.
Muitas vozes interpretaram divinalmente esta canção. The Summertime Connection inclui mais de 4000 versões. Escolhi a versão de SARAH VAUGHAN.
Mas também podia ter escolhido ELLA FITZGERALD e LOUIS ARMSTRONG:
Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high
Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry
One of these mornings
You're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky
But till that morning
There's a'nothing can harm you
With daddy and mamma standing by
Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high
Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry
Fotos de William P. Gottlieb, The Golden Age of Jazz
18.6.07
Ainda há pastores?
Casais de Folgosinho nem sequer é um lugar, é uma extensão de terra, um vale entre as montanhas da Serra da Estrela. Casais de Folgosinho era todo o mundo de Grazina, o pastor mais velho do vale, que guardava e ordenhava 80 ovelhas duas vezes por dia. é todo o mundo de Maria do Espírito Santo que vive só há mais de vinte anos, nos mais de 80 anos de vida que já conta, mas que não a impedem de continuar a correr atrás das três cabras que possui. Casais de Folgosinho é onde fica a casa sem luz eléctrica ou água canalizada de Hermínio, o pastor mais jovem, que ainda não tem 30 anos, e que guarda mais de 100 animais, enquanto ouve as cantigas de Quim Barreiros e sonha com companhia. Rosa e Zé são as únicas crianças do vale, filhos do pastor Manuel Pita, e já só o Zé vai à escola que a Rosa já tem a lida da casa, a apanha da batata ou a ordenha, apesar de conservar o sorriso gaiato. Um documento magnífico sobre os sobreviventes de um lugar que vai deixar de existir. para reflectirmos: como repovoar estes lugares perdidos da Terra, mantendo-os virgens de tecnologias e poluições? como preservar actividades "arcaicas", como o pastoreio, sem escravizar os homens a jornadas e condições de trabalho demasiado árduas? ainda há pastores ou uma utopia.
Vi Ainda há pastores? no CineEco, que lhe atribuiu o Prémio Lusofonia e lhe abriu as portas a uma presença no FICA - Festival Internacional de Cinema Ambiental. Pois bem, Ainda há pastores? venceu agora o FICA, que é o maior festival de cinema dedicado à temática ambiental. Brevemente vai sair o DVD deste document(ári)o e eu vou querer tê-lo na minha colecção. Para o rever, rever e rever...
Extensão da provocação #2
Michel Houellebecq
in Extensão do Domínio da Luta
Ed. quasi, pp 79
16.6.07
BS #5 Bocochê
A TV Record, interessada em catalizar toda a movimentação à volta da música popular brasileira, resolveu fazer um programa, O Fino da Bossa, convidando Elis Regina e Jair para apresentadores. Gravavam ao vivo, nos dois teatros da TV Record, o Consolação e o Record Centro. Com a sua política de convidar novos e antigos, O Fino da Bossa mostrou a obra e, pela primeira vez, o rosto, da constelação de astros que estava à frente da música brasileira. Elis, então em início de carreira, apenas com 20 anos, mostrou que também podia comandar um show de televisão daquela envergadura. O programa de estreia foi gravado a 17 de Maio de 1965 e pode ser escutado no volume 1.
Para todos, havia já o pressentimento de que algo histórico estava a acontecer. Zuza Homem de Melo, responsável pela sonoplastia dos programas, fala da febre de compôr que se vivia na época, "instigada ainda pelas reinvindicações da classe artística, consequência da situação política vivida pelo Brasil pós 64". O tema do genérico era um trecho instrumental de Terra de Ninguém: "Quem trabalha é que tem/Direito de Viver/Pois a terra é de ninguém".
Surgiam novas músicas semanalmente. O Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes, foi terminado num ensaio. Elis cantava, escolhia o que cantar, e tornava-se assim a porta-voz da classe musical brasileira.
A canção BOCOCHÊ (Baden Powell - Vinicius de Moraes), da minha banda sonora, pertence ao volume 2 estas gravações originais No Fino Da Bossa.
Menina bonita pra onde "quo´cê" vai
Menina bonita pra onde "quo´cê" vai
Vou procurar o meu lindo amor
No fundo do mar
Vou procurar o meu lindo amor
No fundo do mar
É onda que vai
É onda que vem
É vida que vai
Não volta ninguém
Foi e nunca mais voltou
Nunca mais! Nunca mais!
Triste, triste me deixou
(Nhem, nhem, nhem)
É onda que vai
É onda que vem
(Nhem, nhem, nhem)
É vida que vai
Não volta ninguém
Menina bonita não vá para o mar
Menina bonita não vá para o mar
Vou me casar com meu lindo amor
No fundo do mar
Vou me casar com meu lindo amor
No fundo do mar
(Nhem, nhem, nhem)
É onda que vai
É onda que vem
(Nhem, nhem, nhem)
É a vida que vai
Não volta ninguém
Menina bonita que foi para o mar
Menina bonita que foi para o mar
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Dorme, meu bem
Que você também é Iemanjá
Bónus:
ÁGUAS DE MARÇO (ELIS E TOM JOBIM)
PENTE QUE PENTEIA
Extensão da provocação #1
Michel Houellebecq
in Extensão do Domínio da Luta
Ed. quasi, pp 89
15.6.07
Elis
A casa da Elis Minha casa
A morte de Elis Regina
No reply #2
De: Daniel Vincent danielvincent_115@hotmail.com
Responder para: danielvincent_500@yahoo.it
Enviado: terça-feira, 12 de junho de 2007 11:51:11
Assunto: Response Needed
My Dear Friend,
Greetings:
I am sorry to intrude into your private and peaceful life,all the same.My name is Mr.Daniel Vincent I work as an accountant in a bank; I contacted you to work together with me in claiming my late client estate.Unfortunately he died without a registered next of kin and as such the funds now have an open beneficiary status.
You could be made the beneficiary since you share the same last name with him. This has officially transferred the right to you, as no other person from his family knows anything about this fund with our bank.
If you are interested in working with me, please get back to me as quickly as possible so that I will give you the details of what we are to do.
I wait for your prompt response so that I can give you more briefing of what you need to and how to do it.
Thanks for your co-operation.
Best regards,
Mr. Daniel.
14.6.07
Cultura da morte
A entrevista foi publicada neste jornal e está a circular pelo mundo. O cardeal Renato Martino é o Presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz.
Já em 1996, o Vaticano anunciou a suspensão da ajuda financeira à UNICEF. A UNICEF difundia nos campos de refugiados de todo o mundo uma informação sobre um espermicida pós-coito destinado a jovens mulheres ou adolescentes vítimas de violação. (ler mais aqui)
O cardeal acusa a Amnistia Internacional de, em conjunto com outras organizações internacionais, como a UNICEF, promover o direito ao aborto, pelo menos em certos casos.
Dias de tuga e Dia de Portugal
Pena que o PR apele ao inconformismo mas não comente a ausência quase completa de debates políticos (não estou a falar de quadraturas de interesses), a descontinuição de programas regulares sobre literatura e ciência, a raridade da presença de músicos e performers de qualidade no écran. Que pena!
Não fora isso e até lhe perdoava esta ingerência na programação do canal público, num brando gesto (ou não fora luso) de aproximação ao mestre Hugo Chávez.
Dado o avé avé da Administração da RTP, no próximo Domingo teremos novamente uma injecção de inputs nacionalistas, compostos por discursos, fardas, gravatas e paradas de ocasião, dados como absolutamente indispensáveis à nossa formação cívica!
A surpreendente estreia de Sarkozy
LA SUITE...
Os defensores de Sarkozy apresentam este vídeo como prova de que o Presidente francês não estava ébrio! "Il était peut être malade physiquement, mais il avait la pleine possession de ses capacités mentales. C'est la posture caractéristique d'une personne ayant trop mangé, ou mal digéré ou subit un coup de chaleur, mais pas d'une personne ivre qui aurait sorti des propos complètement incohérents." Super!
Inês, diz SIM!
13.6.07
RCTV Libre
A Simone questiona-me sobre as repercussões que a notícia do fecho da cadeia televisiva mais popular da Venezuela, RCTV, teve em Portugal. Respondo-lhe: mínimas. Chávez, "o ditador tropical", continua a apaixonar a ala esquerda e a gerar reacções contidas à direita. Ou talvez eu ande distraída!
A 28 de Maio, o governo de Hugo Chávez silenciou a RCTV, não renovando a sua licença de concessão. O canal de notícias Globovisión também tem sido ameaçado pelo presidente venezuelano. Os outros canais privados (Venevisión e Televen) já autocensuram a sua linha editorial. Dirigindo-se a esta "oligarquia apátrida", Chávez foi claro: que tenham cuidado pois estará atento a todos os segundos de emissão e não permitirá que desobedeçam à lei e levem a violência para as ruas. As palavras também são suas quando afirma que não pode aceitar que "matem o presidente da Venezuela".
The Human Right Foundation, Amnistia Internacional (mesmo se no site português da AI não existe nenhuma referência à Venezuela), Repórters sem Fronteiras, são algumas das associações que têm apoiado este movimento RCTV LIBRE.
A Resposta da Embajada de la República Bolivariana de Venezuela en la República Checa
- "El espectro radioeléctrico es Bien del dominio público y pertenece en su totalidad a la soberanía del Estado..."
- "La Televisión RCTV continúa transmitiendo por cable y por dos emisoras de radio: 92. FM y Radio Caracas Radio AM (RCR AM), por lo tanto no se trata de un cierre ni mucho menos de una negación a la libertad de expresión, la cual es plena y absoluta en mi país."
- "En cuanto a los lamentables hechos acaecidos en la manifestación estudiantil, el pueblo venezolano ha manifestado preocupación y repudio, en forma pública a través de sus gobernantes entre ellos, el Presidente Hugo Rafael Chávez Frías, ya que las anteriores manifestaciones a favor y en contra del Gobierno fueron de carácter pacífico y sin incidentes que lamentar."
Sinceramente, só gostei dos cumprimentos finais: "atenta y bolivarianamente"!
12.6.07
BS #4 Nhlonge Yamina
Na rádio tocou Saudosa Maloca (de Adoniran Barbosa), tema que esta dupla incluiu no álbum Danças. Hesitei com Nhlonge Yamina (do álbum Cor). Ambas têm pele com dança lá dentro.
A minha pele tem dança lá dentro
Um, dois, 500, 7 milhões de poros
abertos para o ar, num mar de movimentos.
É independente da minha vontade
mas depende dos meus caprichos.
Vive sem pintura, gosta mais
de estar nua que vestida.
A minha pele é fruta e legumes,
carne e peixe.
Toda ela se arrepia de prazer,
se contrai dolorida, mergulha na água,
enxuga-se ao sol.
Protege-me dos desgostos e
aconchega-me, esconde os meus segredos,
brilha muito,
confunde-se com as árvores.
A minha pele é mais macia
entre as pernas e é perfumada.
A minha pele é cor de chocolate
com pingos de sol.
Inland Empire
E são insuficientes. Falta dizer Hollywood, Tráfico de Mulheres, Máfia de Leste, Mal, Sedução, Crime, Morte, Liberdade, Identidade. E continua a ser insuficiente. Este é um filme que não se traduz em palavras porque está para além delas. As palavras dos poetas podem escrever cinema mas Lynch diz que lida mal com as palavras. O seu não é um cinema de palavras.
Inland Empire desenvolve mundos dentro de mundos criados a partir de uma cena com Laura Dern, cada cena como uma carta de um baralho, cartas que formam e cortam sequências, e depois um trabalho que persegue uma ideia e encontra gestos, olhares que se pareçam com ela, e actores, Laura, que lêem os sinais de Lynch. Laura Dern em mais de 90% das cenas de um filme de três horas. O filme foi escrito e realizado por Lynch, que domou Laura.
Todos os filmes têm um espaço, que ditam a luz, as cores, os sons. Inland Empire fica em LA.
LA filmada em movimento, uma LA digital. LA dos estúdios de cinema e dos mundos obscuros. LA dos sonhos e dos sem abrigo que dormem no passeio das estrelas.
Mas "I can't tell if it's yesterday or tomorrow", ou se "Have you seen me before?". Talvez O Mal esteja dentro de mim e eu dispare contra mim, salvando-me. Talvez. Talvez.
Normalmente, quando não compreendemos, rejeitamos. Mas, já sabemos, o universo Lynch não nos dá respostas nem favorece a síntese. A expectativa face a uma nova obra recai sempre sobre a forma do não-linear. Com Lynch passa-se essa coisa estranha de sabermos perfeitamente por que não compreendemos. Inland Empire fascina por isso. Sente-se uma pulsação, de liberdade, de arte. E connosco, fica um rasto de fantasia.
O Contrabaixo no Porto
“O Contrabaixo”— uma visão desconcertante e cheia de humor da vida e da música— é uma adaptação do texto homónimo de Patrick Süskind, que o Visões Úteis estreou em 2005. Nesta versão de 50 minutos cruzam-se em palco o actor Pedro Carreira e o músico João Martins.
Patrick Süskind é um autor de culto desde o seu primeiro livro: o romance “O Perfume”. A novela “A Pomba” e o conto “A História do Sr Sommer” tiveram também um notável acolhimento internacional. “O Contrabaixo” não foge à
regra. Estreado em 1981 em Munique é uma das peças de teatro que mais tem
sido levada à cena na Europa.
O Visões Úteis apresenta pela primeira vez no Porto a versão Mix de O Contrabaixo. É no café-concerto da Serv'Artes, neste 12 de Junho às 22h.
A Serv'Artes fica na Rua da Constituição, 2105 r/c. É um espaço que vale a pena conhecer.
11.6.07
Grátis grátis grátis Sport TV
O larus, pois
Por alma de quem?
"Por iniciativa da Embaixada de Portugal em França – e para não fugir à tradição –, em Paris, o dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas (10 de junho) foi assinalado com uma missa solene de acção de graças na Igreja de Notre Dame.
(...) aquela missa constituiu mesmo a única iniciativa oficial promovida pela representação diplomática nacional em França no dia 10 de Junho."
10.6.07
Camões
OS LUSÍADAS
64
Nesta frescura tal desembarcavam
Já das naus os segundos Argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas Deusas, como incautas.
Algũas, doces cítaras tocavam;
Algũas, harpas e sonoras frautas;
Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
Seguir os animais, que não seguiam.
65
Assi lho aconselhara a mestra experta:
Que andassem pelos campos espalhadas;
Que, vista dos barões a presa incerta,
Se fizessem primeiro desejadas.
Algũas, que na forma descoberta
Do belo corpo estavam confiadas,
Posta a artificiosa formosura,
Nuas lavar se deixam na água pura.
66
Mas os fortes mancebos, que na praia
Punham os pés, de terra cobiçosos
(Que não há nenhum deles que não saia),
De acharem caça agreste desejosos,
Não cuidam que, sem laço ou redes, caia
Caça naqueles montes deleitosos,
Tão suave, doméstica e benina,
Qual ferida lha tinha já Ericina.
67
Alguns, que em espingardas e nas bestas
Pera ferir os cervos, se fiavam,
Pelos sombrios matos e florestas
Determinadamente se lançavam;
Outros, nas sombras, que de as altas sestas
Defendem a verdura, passeavam
Ao longo da água, que, suave e queda,
Por alvas pedras corre à praia leda.
68
Começam de enxergar subitamente,
Por entre verdes ramos, várias cores,
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas,
Fazendo-se por arte mais fermosas.
69
Dá Veloso, espantado, um grande grito:
– «Senhores, caça estranha (disse) é esta!
Se inda dura o Gentio antigo rito,
A Deusas é sagrada esta floresta.
Mais descobrimos do que humano esprito
Desejou nunca, e bem se manifesta
Que são grandes as cousas e excelentes
Que o mundo encobre aos homens imprudentes.
70
«Sigamos estas Deusas e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Isto dito, veloces mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.
71
De ũa os cabelos de ouro o vento leva,
Correndo, e da outra as fraldas delicadas;
Acende-se o desejo, que se ceva
Nas alves carnes, súbito mostradas.
Ũa de indústria cai, e já releva,
Com mostras mais macias que indinadas,
Que sobre ela, empecendo, também caia
Quem a seguiu pela arenosa praia.
72
Outros, por outra parte, vão topar
Com as Deusas despidas, que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam;
Ũas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando;
73
Outra, como acudindo mais depressa
À vergonha da Deusa caçadora,
Esconde o corpo n' água; outra se apressa
Por tomar os vestidos que tem fora.
Tal dos mancebos há que se arremessa,
Vestido assi e calçado (que, co a mora
De se despir, há medo que inda tarde)
A matar na água o fogo que nele arde.
74
Qual cão de caçador, sagaz e ardido,
Usado a tomar na água a ave ferida,
Vendo [ò] rosto o férreo cano erguido
Pera a garcenha ou pata conhecida,
Antes que soe o estouro, mal sofrido
Salta n' água e da presa não duvida,
Nadando vai e latindo: assi o mancebo
Remete à que não era irmã de Febo.
75
Leonardo, soldado bem disposto,
Manhoso, cavaleiro e namorado,
A quem Amor não dera um só desgosto
Mas sempre fora dele mal tratado,
E tinha já por firme pros[s]uposto
Ser com amores mal afortunado,
Porém não que perdesse a esperança
De inda poder seu fado ter mudança,
76
Quis aqui sua ventura que corria
Após Efire, exemplo de beleza,
Que mais caro que as outras dar queria
O que deu, pera dar-se, a natureza.
Já cansado, correndo, lhe dizia:
– «Ó formosura indina de aspereza,
Pois desta vida te concedo a palma,
Espera um corpo de quem levas a alma!
77
«Todas de correr cansam, Ninfa pura,
Rendendo-se à vontade do inimigo;
Tu só de mi só foges na espessura?
Quem te disse que eu era o que te sigo?
Se to tem dito já aquela ventura
Que em toda a parte sempre anda comigo,
Oh, não na creias, porque eu, quando a cria,
Mil vezes cada hora me mentia.
78
«Não canses, que me cansas! E se queres
Fugir-me, por que não possa tocar-te,
Minha ventura é tal que, inda que esperes,
Ela fará que não possa alcançar-te.
Espera; quero ver, se tu quiseres,
Que sutil modo busca de escapar-te;
E notarás, no fim deste sucesso,
‘Tra la spica e la man qual muro he messo.’
79
«Oh! Não me fujas! Assi nunca o breve
Tempo fuja de tua formosura;
Que, só com refrear o passo leve,
Vencerás da fortuna a força dura.
Que Emperador, que exército se atreve
A quebrantar a fúria da ventura
Que, em quanto desejei, me vai seguindo,
O que tu só farás não me fugindo?
80
«Pões-te da parte da desdita minha?
Fraqueza é dar ajuda ao mais potente.
Levas-me um coração que livre tinha?
Solta-mo e correrás mais levemente.
Não te carrega essa alma tão mesquinha
Que nesses fios de ouro reluzente
Atada levas? Ou, despois de presa,
Lhe mudaste a ventura e menos pesa?
81
«Nesta esperança só te vou seguindo:
Que ou tu não sofrerás o peso dela,
Ou na virtude de teu gesto lindo
Lhe mudarás a triste e dura estrela.
E se se lhe mudar, não vás fugindo,
Que Amor te ferirá, gentil donzela,
E tu me esperarás, se Amor te fere;
E se me esperas, não há mais que espere.»
82
Já não fugia a bela Ninfa tanto,
Por se dar cara ao triste que a seguia,
Como por ir ouvindo o doce canto,
As namoradas mágoas que dizia.
Volvendo o rosto, já sereno e santo,
Toda banhada em riso e alegria,
Cair se deixa aos pés do vencedor,
Que todo se desfaz em puro amor.
83
Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
in Os Lusíadas, de Luís de Camões (Canto IX)