Ainda não descrevi Chloe. Aparentemente, não havia uma grande diferença entre nós, entre mim e ela, naquela idade, em termos do que poderia ser medido. Mesmo o cabelo, quase branco, mas cor-de-trigo quando estava molhado, pouco mais comprido era do que o meu. Usava-o cortado à pagem, com uma franja a tapar-lhe a testa bonita, arqueada e estranhamente convexa - semelhante, apercebo-me de súbito, notavelmente semelhante à testa daquela figura espectral vista de perfil a pairar na extremidade do quadro de Bonnard, Mesa diante da janela, o quadro com a taça de fruta e o livro, e a janela que mais parece uma tela vista de trás, assente num cavalete. (...)
Certo dia, um dos rapazes do Campo garantiu-me, com um sorriso dúbio, que uma franja como a de Chloe era um sinal indesmentível de uma rapariga que brincava sozinha. Ignorava o que ele queria dizer, mas tinha a certeza de que Chloe não brincava, nem sozinha nem de outro modo.
Certo dia, um dos rapazes do Campo garantiu-me, com um sorriso dúbio, que uma franja como a de Chloe era um sinal indesmentível de uma rapariga que brincava sozinha. Ignorava o que ele queria dizer, mas tinha a certeza de que Chloe não brincava, nem sozinha nem de outro modo.
in Banville, John, O Mar, ed. ASA, Junho 2006, pp 88-89
Sem comentários:
Enviar um comentário