"Je parle avec l'autorité de l'échec" - Scott Fitzgerald
"Ben quoi ! Ben oui ! Faut pas compliquer ! Faut dire des choses comme elles sont. On aime et puis on n'aime plus" - Françoise Sagan
I
Avec le temps on n'aime plus (Com o tempo deixamos de amar)
O amor é um combate perdido à partida.
No início tudo é belo, mesmo você. Você nem quer acreditar que estão assim tão apaixonados. Cada dia traz o seu pequeno carregamento de milagres. (...) A felicidade existe e é simples: é um rosto. O universo sorri. Durante um ano a vida não é mais que uma sucessão de manhãs ensoleiradas, mesmo à tarde quando neva. Escreveis livros sobre tudo isto. Casais, o mais rapidamente possível - porquê reflectir quando somos felizes? Pensar deixa-nos triste; é a vida que deve vencer.
No segundo ano as coisas começam a mudar. Passais a ser mais ternos. Sentis orgulho da cumplicidade que existe na vossa relação. Compreendeis a vossa mulher por meias palavras; que alegria ser só um. (...) Fazeis amor cada vez menos e acreditais que não é grave. Estais persuadidos de que em cada dia que passa o vosso amor é cada vez mais sólido, quando na verdade o fim do mundo está para breve. Defendeis o casamento junto dos vossos amigos celibatários que de resto já nem vos reconhecem. Mas vós mesmos, estais seguros de se reconhecer (...)?
No terceiro ano, já não deixais de olhar para as miúdas frescas que iluminam a rua. Já não falais com a vossa mulher. Passais horas no restaurante com ela a ouvir o que dizem os vizinhos da mesa ao lado. Saís para programas fora de casa com mais frequência: o que vos dá uma desculpa para não foder. Rapidamente chega o momento em que já não suportais mais a vossa mulher, até porque estais apaixonados por outra. Há um único aspecto sobre o qual não se enganaram: efectivamente, é a vida que tem a última palavra. No terceiro ano há uma boa e uma má notícia. A boa notícia: farta, a vossa mulher deixa-vos. A má notícia: começais um novo livro. (pp 15-16)
"Ben quoi ! Ben oui ! Faut pas compliquer ! Faut dire des choses comme elles sont. On aime et puis on n'aime plus" - Françoise Sagan
I
Avec le temps on n'aime plus (Com o tempo deixamos de amar)
O amor é um combate perdido à partida.
No início tudo é belo, mesmo você. Você nem quer acreditar que estão assim tão apaixonados. Cada dia traz o seu pequeno carregamento de milagres. (...) A felicidade existe e é simples: é um rosto. O universo sorri. Durante um ano a vida não é mais que uma sucessão de manhãs ensoleiradas, mesmo à tarde quando neva. Escreveis livros sobre tudo isto. Casais, o mais rapidamente possível - porquê reflectir quando somos felizes? Pensar deixa-nos triste; é a vida que deve vencer.
No segundo ano as coisas começam a mudar. Passais a ser mais ternos. Sentis orgulho da cumplicidade que existe na vossa relação. Compreendeis a vossa mulher por meias palavras; que alegria ser só um. (...) Fazeis amor cada vez menos e acreditais que não é grave. Estais persuadidos de que em cada dia que passa o vosso amor é cada vez mais sólido, quando na verdade o fim do mundo está para breve. Defendeis o casamento junto dos vossos amigos celibatários que de resto já nem vos reconhecem. Mas vós mesmos, estais seguros de se reconhecer (...)?
No terceiro ano, já não deixais de olhar para as miúdas frescas que iluminam a rua. Já não falais com a vossa mulher. Passais horas no restaurante com ela a ouvir o que dizem os vizinhos da mesa ao lado. Saís para programas fora de casa com mais frequência: o que vos dá uma desculpa para não foder. Rapidamente chega o momento em que já não suportais mais a vossa mulher, até porque estais apaixonados por outra. Há um único aspecto sobre o qual não se enganaram: efectivamente, é a vida que tem a última palavra. No terceiro ano há uma boa e uma má notícia. A boa notícia: farta, a vossa mulher deixa-vos. A má notícia: começais um novo livro. (pp 15-16)
in Beigbeder, Frédéric, L'amour dure trois ans, Gallimard, 1997 (trad. do francês)
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