Dave April
Gostaria desde logo de precisar que não é minha intenção denunciar de maneira mecânica e fácil as sondagens de opinião. Se não há dúvida de que as sondagens não são o que se pretende fazer crer, também não são o que se diz quando se pretende dismitificá-las. (...)
A sondagem política é hoje um instrumento de acção política; a sua mais importante função é talvez impor a ilusão de que existe uma opinião pública como somatório puramente aditivo de opiniões individuais; é impor a ideia de que, por exemplo numa sala de aula, existe opiniao pública, algo que seria como a média das opiniões ou a opinião média. A "opinião pública" manifestada nas primeiras páginas dos jornais sob a forma de percentagens (60% dos franceses são favoráveis a...), esta opinião pública é um artefacto puro e simples cuja função é dissimular que o estado da opinião num dado momento do tempo é um sistema de forças e de tensões e que nada é menos adequado para representar o estado da opinião que uma percentagem.
Sabe-se que as relações de força nunca se reduzem às relações de força: todos os exercícios da força são acompanhados por um discurso que visa legitimar a força daquele que a exerce. (...) Para falar simplesmente: o político é o homem que diz "Deus está connosco". O equivalente moderno de "Deus está connosco" é "a opinião pública está connosco".
É este o efeito fundamental da sondagem de opinião: constituir a ideia que existe uma opinião pública unânime para legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundam ou a tornam possível.
[in Pierre Bourdieu, L'Opinion publique n'existe pas, Paris, Les Temps Modernes, Janeiro 1973, pp 1292-1308]
vim, sobretudo, agradecer o comentário e o link.
ResponderEliminarnão conhecia este blog, gostei, muito. voltarei.
Estou completamente de acordo com a ideia Pierre Bourdieu, que o único objectivo das sondagens, é transmitir a ideia de que há uma opinião pública, unânime ou maioritária, que serve para legitimar as políticas adoptadas.
ResponderEliminarColoquei divas nos meus favoritos. Depois coloco o link no absorto. Gosto. Um abraço.
ResponderEliminarPara te ser sincero as sondagens em Portugal (que são as que melhor conheço a par com as espanholas) fazem-me confusão, porque no mesmo dia aparecem sondagens com resultados bastante diferentes, mesmo que seja o mesmo o vencedor... Acho que era preferivel fazer uma amcro sondagem, com uma amostra bem granda, no minimo 10% dos eleitores, aí sim poderia acreditar... Mas também sou realista e sei que isso era muito complicado, e que atmbém não interessaria a muita gente que isso acontecesse.
ResponderEliminar10% da população é mesmo muito e não resolvia o problema. Era sp preciso saber quem eram esses 10%, se efectivamente eram representativos da população e de que população. Por vezes as amostras são "representativas aleatórias" (o que é bt difícil), normalmente são representativas por quotas. Que variáveis são contempladas nessas quotas? Por exemplo, se um estudo considerar, para além do sexo/idade/região, o voto dos entrevistados nas anteriores eleições e outro não, os resultados já vão ser diferentes. As quotas definidas (e as bases estatísticas em que se baseia a proporção destas) são muito importantes e nem sempre são explicadas ao grande público. Existem vários factores de natureza metodológica que fazem variar estes resultados, esta é só uma achega! (outros: técnica de recolha de informação utilizada - telefone, directa, urna; o questionário; etc.)
ResponderEliminarO que Bourdieu defende é que fazer coincidir as sondagens com a "opinião pública" é um artefacto utilizado pelos políticos para promover as suas políticas ou medidas. E é um facto que as sondagens são instrumentos de decisão. Têm mais notoriedade em períodos de campanha eleitoral mas acompanham toda a governação política.
Obrigada pelo teu comentário. E não estejas muito atento às sondagens, lê uma ou outra pq são indicadores de tendências. Deixemos o quebra-cabeças para os senhores da política, são eles que precisam de "trabalhar" esses dados.