Acabo de ganhar um troféu muito especial atribuído pela Didas e Japinho, excelentíssimo júri de um concurso "literário" do Farinha Amparo. O mote era excelente, o prémio é gostoso.
Não podia deixar de retribuir. Mas desta vez, com um texto do Artur Portela.
Quer mais pão, obrigado, de trigo?, obrigado-obrigado, ou antes de centeio?, não-não, trigo, centeio, disse?. não, disse trigo, trigo torrado? como torrado?, torrado, centeio torrado, obrigado, mas não, trigo!, não trigo, portanto, centeio torrado?, não, trigo!, trigo torrado?, muito obrigado, embora, embora quê?, embora o pão torrado beba pior o azeite, beba pior?, sim, beba pior o azeite, quer dizer, seja mais difícil de embeber em azeite, nesse caso, não torrado, nesse caso, e manteiga?, obrigado, a manteiga, de facto é excelente, tem alho?, alho?, não sei, talvez ervas aromáticas!, sim, sim, ervas aromáticas, perfeitamente, perfeitamente, salsa-tomilho-coentros, obrigado, azedas-eruca-louro-alecrim, obrigado, verbena-cebolinho-estragão, obrigado, manjerona-hortelã, obrigado-obrigado, azeitonas?, sim-sim, azeitonas!, verdes?, pretas, obrigado, este vinho é óptimo, alho?, alho, o vinho?!, não-não, as azeitonas!, as verdes?, as verdes e as pretas, não, talvez ervas!, ervas?, sim-sim, ervas aromáticas!, manjericão-endro-cerefólio, como?, ce-re-fó-li-o!, a manteiga é excelente, aqui a tem, mais azeitonas?, obrigado-obrigado, verdes?, pretas, obrigado, disse verdes?, não, disse pretas, obrigado, de nada, pretas com ervas, por quem é, com ervas aromáticas, salsa-tomilho-coentros, o pão?, sim, e a manteiga, a manteiga, sim, mas o pão, eu referia-ma às azeitonas, as pretas?, não, as verdes, as ervas, as ervas!, manjericão-endro-ramo-de-cheiros, obrigado-obrigado, caiu-lhe o guardanapo, caiu-me, desculpe, por amor de deus, de Deus?, de deus?, não, de Deus, é indiferente, Deus ou deus, no caso, é indiferente!, completamente indiferente!, indiferente no caso, no caso, sem dúvida, pois, mas não tem guardanapo, caiu-me, desculpe, eu apanho, não-não, desculpe, apanho eu!, não, desculpe, mas apanho eu!, sim, mas eu insisto, apanho eu!, já estou a apanhar, não-não, eu apanho, eu!, isso não!, quem apanha o guardanapo sou eu, eu apanho, apanho eu!, com licença, com licença, agora caiu-me o meu!, procuramos os dois, não é necessário, eu apanho os dois guardanapos!, apanhamos os dois, os dois apanhamos os dois guardanapos!, um apanha um e o outro apanhas o outro, pois, mas eu faço questão de apanhar o seu!, e eu o seu!, com licença, tinham de estar, com licença, aqui, pois tinham, caíram-nos dos joelhos e só podiam estar aqui!, pois, mas, aqui está um!, é o seu!, por amor de Deus, é o seu!, de deus?, de deus não, de Deus!, é indiferente, Deus ou deus, no caso, é indiferente!, como é que sabe que é o meu guardanapo?, pode muito bem ser o seu guardanapo!, pois, mas e o outro guardanapo?!, é indiferente-é indiferente!, um guardanapo chega!, levantemo-nos!, depois de si, depois de si!, faço questão!, eu também faço questão!, temos é de tomar uma decisão, pois temos-pois temos!, e temos porque não cabemos os dois debaixo da mesa!
O Almoço, Artur Portela, Coluna do Jornal do Fundão, Os Peixes Voadores - 22, 23.04.04
O Almoço, Artur Portela, Coluna do Jornal do Fundão, Os Peixes Voadores - 22, 23.04.04
Sim senhor, é a isto que eu chamo um verdadeiro discurso da cerimónia dos cacetes! :-)
ResponderEliminarJustamente, dos cacetes!
ResponderEliminarUm abraço
Artur Portela