Miguel Torga
Hoje é dia para lembrarmos Miguel Torga. Ou é sempre dia. Basta querermos. Mas hoje fui buscar os livros dele, todos Edições Coimbra, com capas amarelecidas e gastas, folhas cortadas, alguns cheios de anotações numa caligrafia que foi mudando de idade.
Lembrei-me do primeiro livro que li, Bichos. E do impacto de Madalena nos meus 13 ou 14 anos. Miura, que continua a comover-me. Ainda são os meus contos.
E aquela linguagem. Frases simples, descrições de filigrana, plano sonoro rico, paisagens verdes ou secas e estaladiças, moçoilas, velhas, machos, vidas.
Pau para toda a colher em matéria de chanatos, o Rodrigo apareceu em Dailão num dia de feira a tocar a gaita dos sete ofícios - uma flauta de capador, que parecia um harmónio a cantar-lhe nos beiços.
- Temos chuva!
Sempre de ironia na ponta da língua, a Mathilde, que lavava a louça, antes mesmo de ver a cara do músico, atirou a dizedela. Depois é que chegou à varanda. E o Rodrigo, apenas a lobrigou, repenicou-lhe cá de baixo uma assobiadela afinada como um madrigal.
- O homem é doido!
Mas era por uma ave de arribação assim, exótica e atrevida, que o seu coração esperava.
(in Contos da Montanha)
Na Arca de Noé da literatura portuguesa, Miguel Torga será sempre um dos eleitos.
iupi cai hey! Caí aqui por acaso envolto em farinha e trapalhadas. Bombe Log:)
ResponderEliminarCurioso. Há dois ou três dias atrás lembrei-me, nem sei porquê, dos "Novos contos da Montanha" que li há muitos anos e senti um vontade de voltar a le-los. Talvez vá mesmo faze-lo.
ResponderEliminarExcelente escolha.
Um Senhor na escrita.... um Senhor na vida!
ResponderEliminarSou super, hiper, furiosamente fã do homem!
ResponderEliminarTenho tudo, tudo, mas tudo o que ele escreveu!