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2.11.14

Não sei se é uma porta nem adivinho as cores da casa, mas bato. Passei nessa rua tantas vezes. Tantas vezes a encenar a mão a fechar e os nós dos dedos a bater. Mas era sempre não. Estou velha, não existem sítios ávidos, só paragens. O amor é uma natureza morta. Tantas vezes a sentir essa força ligeira, ligeira morte, desapercebida. Entretanto a carne e a sua maneira de falar. Mas não foi por isso. Tentei sobre-viver hoje. Sobre-vivo pouco mas ando sempre meia atenta à sobre-vivência e hoje estive de um lado de cá de mim. Bati à porta como quem vende bíblias fingindo que é livre. E afundei abarrotada de vazio. Podia falar do tremor que sentia ou do teu silêncio mas não vale a pena. O tremor pertence-me e o teu silêncio dói. Eu, sentada à beira da mesa, estendida, a dizer que sim, pois que sim, o peso da contingência, mesmo assim à espera
de compreender se haveria um momento em que a doçura entrasse, com ou sem vestes de volúpia. Faço de ti matéria macia e doce e não entrevejo dentes que possam ferir-nos. Mas existe o Bem e o Mal e arrancaste-me o Mal da boca. Eu ia muito longe buscar imagens. Afundei. Não faz mal. Sou rica em abrigos oceânicos. Mas estou aqui. A ver-te libertar-te de mim, sem saber se te dói pouco ou nada.

Toca uma campainha. Eu atendo. Não convém perdermo-nos das contingências. O céu quebra-se vezes demais.


MRF
2007

6 comentários:

  1. "O amor é uma natureza morta"...! Há muito tempo que eu não encontrava um blog que me tocasse, assim: vertiginosamente, em silêncio.

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  2. Obrigada, Anouska. O blogue está moribundo mas pode ser que eu o desperte um dia destes. Abraço

    MRF

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  3. as contingências deixam muitas coisas moribundas... Beijinhos

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  4. Espero, sinceramente, que ressuscite...

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  5. Visitem o meu blog e deixem feedback! Martinhaecia Obrigada

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  6. Olá amigo(a)!

    Gostei do blog...

    Abraços!

    - tavaresplugado.blogspot.com

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