Há muitos anos, a Anabela Mota Ribeiro tinha uma programa televisivo em que entrevistava casais. Vasco Graça Moura e a mulher de então, Rosarinho, foram um dos casais convidados. Nunca mais esqueci a crítica da minha homónima, que se queixava de que ele era demasiado pró-Cavaco (Primeiro-Ministro na altura!?), demasiado, demasiado! E eu a gostar tanto dela. Porque era verdade, era verdade! Mas dep...ois ele começou a falar das filhas e leu alguns poemas que escrevera para elas. Belíssimos! Quanta sensibilidade, quanto amor! Vasco Graça Moura era grande na sua arte e imenso no seu saber humanista e erudito. De resto, preconceito meu, era essa imensa Cultura que me fazia não aceitar a sua associação àquele pequeno poder cinzentão e deprimente (que se perpetua...). E comprava os seus livros e admirava as suas épicas traduções, sempre segura da qualidade, sempre ligeiramente irritada. A morte lava as pequenas fúrias. Estou triste pela sua morte.
As meninas
as minhas filhas nadam. a mais nova
leva nos braços bóias pequeninas,
a outra dá um salto e põe à prova
o corpo esguio, as longas pernas finas:
entre risadas como serpentinas,
vai como a formosinha numa trova,
salta a pés juntos, dedos nas narinas,
e emerge ao sol que o seu cabelo escova.
a água tem a pele azul-turquesa
e brilhos e salpicos, e mergulham
feitas pura alegria incandescente.
e ficam, de ternura e de surpresa,
nas toalhas de cor em que se embrulham,
ninfinhas sobre a relva, de repente.
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