Não sei bem se vai partir. No entanto, deixo aqui palavras minhas tão solidárias como no momento em que as escrevi. É também para isso que a poesia serve.
CANÇÃO DOS QUE PARTEM
Vamos embora, o mar já se não sente com o seu hálito e as videiras parece que secaram por falta de alegria.
Está aí o outono, encharca-nos as veias, e todos recolhemos mudos a nossas casas. Nem um copo de vinho nos cai bem.
Hoje qualquer sítio é melhor do que este e tanto quanto mais longe estiver. Pesa-nos o destino de nós todos sermos pequenos
como as velhas cidades quando a guerra as assolava, ruas que eram vielas, a gente que depois enchia
as estradas de fuga, como agora sucede sem se ver. Aqui não somos livres e não tarda os meirinhos virão por nós,
levando-nos as coisas penhoradas quando nada devemos, e assim actuam desde o início, às vezes a ira, o sangue, a história.
Não sei bem se vai partir. No entanto, deixo aqui palavras minhas tão solidárias como no momento em que as escrevi. É também para isso que a poesia serve.
ResponderEliminarCANÇÃO DOS QUE PARTEM
Vamos embora, o mar já se não sente
com o seu hálito
e as videiras parece que secaram
por falta de alegria.
Está aí o outono, encharca-nos as veias,
e todos recolhemos
mudos a nossas casas. Nem um copo
de vinho nos cai bem.
Hoje qualquer sítio é melhor do que este
e tanto quanto mais longe estiver.
Pesa-nos o destino de nós todos
sermos pequenos
como as velhas cidades quando
a guerra as assolava,
ruas que eram vielas,
a gente que depois enchia
as estradas de fuga, como agora
sucede sem se ver.
Aqui não somos livres e não tarda
os meirinhos virão por nós,
levando-nos as coisas penhoradas
quando nada devemos,
e assim actuam desde o início,
às vezes a ira, o sangue, a história.
In Elegias de Cronos (2012)
Muito obrigada, Nuno! Sem palavras. Um abraço!
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