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20.8.12

Nada que exista

Tão longe, meu amor, tão longe,
quem de tão longe alguma vez regressa?!
Jorge de Sena


espantou-me encontrar-te assim tão de passagem na tua própria casa
e que houvesse sempre uma pequena luz (talvez benzida) a mantê-la iluminada
não obstante, pensei amar-te (libertar-te) da ponta dos dedos às ideias mais abstractas

a realidade revelou um corpo-defeito desfeito
que eu tocava com nomes pele água panos ternos jeitos
e um silêncio encalhado que me inspirava sonatas e me levava a beijar-te por falta de
palavras

decidi então assim: nunca mais te verei.
vais ser: o rasto dos aviões no céu, idênticos a si mesmos, não singulares.
serei: se quiseres ainda: o mamilo que toca piano. ou seja, nada que exista.

MRF
2005

2 comentários:

  1. Obrigada, Manuel!

    Sobre a foto, devo um esclarecimento: retirei-a da net e não consegui identificar o autor (algo que não me agrada muito).

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