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2.5.12

«Eu sou muitos»


[A exposição patente na Fundação Calouste Gulbenkian, "Fernando Pessoa - Plural como o universo", terminará afinal a 6 de Maio. Carlos Felipe Moisés é o curador brasileiro da exposição que assinala o Ano do Brasil em Portugal]

Talvez a culpa seja da expectativa.demasiado elevada. A verdade é que esta exposição é fraca em termos de conteúdo. não por ser inexacta ou esquecer heterónimos. mas porque nos dá pouco mais que títulos. Cada um dos quatro heterónimos principais de Pessoa é um título e uma sinopse. Essa é a primeira sala. Sim, as "cabines" com os poemas projectados distraem e podem fazer sentir. stop. É a primeira sala. «Os curadores quiseram mostrar que "Pessoa é um poeta para todos" e fazer uma exposição para todas as idades. A exposição é lúdica, interactiva e labiríntica: não tem um percurso marcado para que os visitantes se aventurem no seu espaço». stop. Na segunda sala temos o famoso quadro de José de Almada Negreiros, "Retrato de Fernando Pessoa"(1964). Momento de contemplação e escuta: a perspectiva, o cubismo, todas as partes num mesmo plano frontal em relação ao espectador, as mãos e o rosto iluminados na sombra, a folha ainda em branco que aguarda a escrita, a luz sobre Orpheu.

Óleo sobre tela. 225 x 226 cm. Coleção Centro de Arte Moderna.

"Lisboa", de Carlos Botelho, avista-se do lado oposto. stop. Terceira sala: painéis com elementos biográficos, apresentados de forma cronológica. stop. Quarta sala: amálgama de tesouros & coisas para distrair: «No canto dedicado ao modernismo e à criação da revista Orpheu estão expostas três obras de Eduardo Viana, Amadeo de Souza-Cardoso e Santa-Rita Pintor». Seis vitrines mostram documentos, manuscritos e cadernos: «Estão lá cartas que nunca foram mostradas em público, dois bilhetes-postais para Luís de Montalvor (um dos primeiros directores da revista Orpheu), o primeiro dos jornais fictícios de Pessoa, O Palrador, com notícias reais e fictícias, o caderno mais antigo de Pessoa (datado de 1901), onde ele registou as notas do liceu de Durban (era um estudante exímio). O caderno com a primeira mostra caligráfica de Fernando Pessoa e, um outro, onde nasceram os primeiros excertos do Barão de Teive». A famosa arca de madeira do poeta, que foi cedida para a exposição pelo anónimo que a arrecadou, em leilão, em 2008. Curtas metragens balofas (Limite, de Mário Peixoto, e Pessoas, de Carlos Nader). non stop.

Há tesouros. Há Pessoa. Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Mas, sinceramente, sem o fantástico guia que me calhou, teria saído dali com pouca mais-valia em relação ao meu mísero conhecimento do poeta.

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