João Pedro Vale (2010). Coragem Portugueses, só vos falta ser Grandes.
Lâmpadas, ferro e instalação eléctrica, 120x560x20cm.
Páginas
▼
27.12.10
La femme qui n'a plus 20 ans depuis longtemps
E este poema que tem cada vez mais sentido... O Cunningham, em "Ao cair da Noite", fala das personagens que têm quarentas (uma delas 44, como eu) como pessoas de "meia idade". Ou o mato ou ouço este Sarah...
La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Les yeux cernés
Par les années
Par les amours
...Au jour le jour
La bouche usée
Par les baisers
Trop souvent, mais
Trop mal donnés
Le teint blafard
Malgré le fard
Plus pâle qu'une
Tâche de lune
La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Les seins si lourds
De trop d'amour
Ne portent pas
Le nom d'appas
Le corps lassé
Trop caressé
Trop souvent, mais
Trop mal aimé
Le dos voûté
Semble porter
Des souvenirs
Qu'elle a dû fuir
La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Ne riez pas
N'y touchez pas
Gardez vos larmes
Et vos sarcasmes
Lorsque la nuit
Nous réunit
Son corps, ses mains
S'offrent aux miens
Et c'est son cœur
Couvert de pleurs
Et de blessures
Qui me rassure
23.12.10
15.12.10
e assim acontece
E assim acontece. Carlos Pinto Coelho morreu. A foto é dele__chamou-lhe "Interdito". mas é o fim de um caminho.
À escuta #109
E se no telejornal (RTP), "onde só dá notícias a sério", passar uma reportagem especial sobre o Pai Natal - «O Pai Natal já partiu da Lapónia»... Pois é, adeus certezas e cinismos de pré-adolescentes! Os 10 anos voltam a ser o que eram... para gáudio da mãe das meninas.
- eu sabia que existia mesmo um Pai Natal, um verdadeiro!
- oh, o Pai Natal existe mesmo?
- aquelas pessoas da fábrica____é como se fossem duendes?
- dantes, se calhar havia duendes. agora são empregadas da fábrica.
- a rena é tão gira!
- como é que ele consegue viajar por todo o mundo assim? não é possível...
- achas mesmo que ele voa?
- ele não voa, pois não?
- tudo bem, mas ele não dá presentes a todas as crianças...
- como é que ele conhece as crianças?
- ainda aceitam cartas lá na Lapónia?
- ele não dá prendas em Portugal!
- nem em África, é muito longe da Lapónia...
12.12.10
10.12.10
Paris versus New York
Ilustrador: Vahram Muratyan. os vários ícones das duas cidades. detalhes que marcam a sua identidade urbana. similitudes. diferences.
9.12.10
Estranho familiar
CANNES 09 : PALME D'OR : LE RUBAN BLANC DE MICHAEL HANEKE
Sobre a morte: tive esta conversa com as minhas filhas. elas deveriam ter mais ou menos a idade do rapazinho. as mesmas perguntas, as mesmas respostas. comovente.
Vou (a)guardar o filme.
3.12.10
Quién mató a Walter Benjamin...
Após 70 anos, a causa da morte do filósofo alemão Walter Benjamin permanece um mistério. O autor de "A Obra de Arte na Era de sua reprodutibilidade técnica" (WB analisa a sua existência na era da cópia, da fotografia) conseguiu atravessar a fronteira franco-espanhola mas, na cidade catalã de PortBou, ter-se-á suicidado. É possível ver o documentário on line (depois de preencher um formulário simples enviam-nos o endereço e password por email) via: http://www.whokilledwalterbenjamin.com/watch.html
Acabei de ver o documentário. A investigação que realizaram e que fundamenta toda a narrativa, é excelente. A selecção dos entrevistados é primorosa, seja ao nível dos testemunhos da gente de Portbou seja ao nível dos académicos. Encontraram pessoas-chave. Desde Tiedemann a Gary Smith. Apreciei em particular o prof. Stéphane Mosés: um homem douto, sábio, que nos dá o pensamento de Walter Benjamin. De resto, é a única crítica que faço: temos a biografia, naturalmente centrada aqui nos últimos dias da sua existência, mas são poucos os minutos dedicados à sua obra. Este documentário procura ser uma espécie de porta por onde o "Messias" poderia entrar. Conseguiram-no de alguma forma. Em Setembro de 1940, ou hoje, saberíamos desde o princípio quem matou WB: foi a História, num momento de recuo à barbárie. O que é intimidante é que pode sempre acontecer (penso na Bósnia, anos 90, por exemplo). Ouvindo os noticiários deste mundo, todos os dias, somos todos colocados, de certa forma, qual anjo de Klee, na direcção do abismo. É claro, há o riso. que nos distrai e agarra à vida. Mas é bom não perder a consciência. «Quíén mató a Walter Benjamin...» é um alerta pertinente. Um texto de História, no sentido benjaminiano.
Sond'Ar-te Electric Ensemble
150 anos Portugal - Japão
Centenário da República
Centenário da República
3 e 4 de Dezembro de 2010 | 21h30 Centro Cultural de Cascais
Este concerto pelo Sond'Ar-te Electric Ensemble procura celebrar a criação musical na perspectiva de duas efemérides importantes para Portugal neste ano de 2010.
Por um lado assinalar o Centenário da República com obras de compositores estreadas em 1910 e em 2010, pondo assim em perspectiva 100 anos de criação musical em Portugal, de Luís de Freitas Branco aos nossos dias.
Por outro lado, exaltar o intercâmbio cultural e musical entre Portugal e o Japão nos 150 anos do tratado de amizade, Paz e Comércio entre os dois países, apresentando em estreia absoluta obras encomendadas para o Sond'Ar-te Electric Ensemble a compositores japoneses e portugueses.
4 de Dezembro de 2010 | 21h30 Centro Cultural de Cascais: concerto.
Programa:
Luís de Freitas Branco, Trio para violino, violoncelo e piano (1910)
Cadavre Exquis (2010) * - António Chagas Rosa, António de Sousa Dias, António Pinho Vargas, Cândido Lima, Carlos Caires, Christopher Bochmann, Isabel Pires, Isabel Soveral, João Pedro Oliveira, José Luís Ferreira, Luís Tinoco, Paula Azguime, Pedro Amaral, Pedro M. Rocha, Ricardo Ribeiro, Tiago Cutileiro
Masataka Matuso - A Double Fiber of Resonance *
Ai Kamachi - Fairy Circle - EA
Osamu Kadowaki - Scape - EA
José Luís Ferreira - AVANT * - EA
EA - Estreia absoluta
* Encomenda da Miso Music Portugal para o Sond'Ar-te Electric Ensemble
Entrada Livre
Fotografia de Paula Azguime
Fotografia de Paula Azguime
1.12.10
Dammi 100 Lire e I will survive. pertinente
... e, por estes dias, recordar os Musica Nuda, diva e contrabaixo.
Mamma mia dammi 100 lire che in America voglio andà,
centro lire e le scarpette ma in America no no no.
Suoi fratelli alla finestra mamma mia lassela andà,
vai vai pure o figlia ingrata che qualcosa succederà.
Quando furono in mezzo al mare il bastimento si sprofondò,
pescator che peschi i pesci la mia figlia vai tu a pescar.
Il mio sangue è rosso e fino i pesci del mare lo beveran,
la mia carne è bianca e pura la balena la mangerà.
Il consiglio della mia mamma l’era tutta la verità,
mentre quello dei miei fratelli resta quello che m’ha ingannà
29.11.10
Almost Blue
ele sabe exactamente o que fazer
she wanted to test her man
lembra-se dela antes das lágrimas
a pseudonym to fool him
vê-la feliz em mares de gente
de olhos ousados e privados
there’s a part of me that’s always true
ele massacra o músculo exacto
mensagem à mente em minúsculo acto
there’s a girl here and she’s almost me
almost doing things we used to do
quando éramos eu e tu
e not a yellow angel e um pseudónimo
flirt das estampas em que nos tornámos
but Not all good things come to an end now
it is only a chosen few
5.10.10
A República começou antes de o ser e a Monarquia ainda é uma pose.
António José de Almeida em São Tomé e Príncipe, 1896-1903
[Não percam a exposição que o Museu da Presidência da República promove com as fotografias oficiais e oficiosas de todos os nossos PR. Esta foto pertence ao espólio do MPR.]
18.9.10
8.9.10
À escuta #108
[Primeiro dia de aulas no 5º ano. Nova escola.]
... e na apresentação, o que mais disse a professora?
S., A.: Perguntou quais são as coisas que mais gostamos e as que menos gostamos...
... e o que responderam?
S., A.: Brincar!
... é o que mais gostam. E o que menos gostam?
S: Ter uma "minha irmã" que me "chateia".
A: Que gozem comigo.
5.9.10
Lauro Corado
28.7.10
À escuta #107
S. - Mamã, tenho uma prenda para ti...
- Oh que linda esta pulseira! Fica mesmo bem com a minha roupa!
S. - Pois, eu pensei mesmo nessa roupa, e faço as pulseiras em 10 minutos!
- Muita gira. Então e as outras pulseiras e colares, são para vender?
S. - Sim, já tenho a tabela de preços pronta!
- Isso é que é trabalhar!
S. - ... mas a ti ofereço porque sei que gostas que eu te ofereça coisas. Não me esqueço daquela vez que te ofereci um livro, com o meu dinheiro...
- Pois foi, eu nem vi quando foste à caixa pagar, fiquei mesmo surpreendida!
S. - A A. é que não te oferece nada, só os trabalhos que faz na escola! Sinceramente!
- A A. há-de oferecer um dia, só não se lembrou ainda, não é?
A. - Ah não, eu lembro-me sempre, só que tenho que poupar dinheiro porque a minha prenda é muito cara. Queres saber já o que é?
- Não sei, queres dizer-me?
A. - Eu digo: é uma banheira com hidromassagem, tipo jacuzzi! Vais delirar!
26.7.10
HELPO: Workshop de formação para voluntários internacionais
A Helpo é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento, sem fins lucrativos, de Direito Português, nascida a 26 de Novembro de 2004. É uma Organização laica e apolítica que leva a cabo programas de apoio continuados, projectos de assistência, ajuda humanitária e desenvolvimento comunitário em múltiplos países do hemisfério Norte e Sul do Mundo.
Os vectores de intervenção, que em parte decorrem da aplicação do programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância (ACD), centram-se na assistência alimentar; educativa; sanitária; empowerment; geração de rendimento próprio; educação para o desenvolvimento, desenvolvimento humano e ajuda humanitária e de emergência.
Os vectores de intervenção, que em parte decorrem da aplicação do programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância (ACD), centram-se na assistência alimentar; educativa; sanitária; empowerment; geração de rendimento próprio; educação para o desenvolvimento, desenvolvimento humano e ajuda humanitária e de emergência.
24.7.10
«Declare-se à Mata»
A MATA NACIONAL DO BUÇACO é finalista do concurso 7 Maravilhas Naturais de Portugal. É um dos lugares esquecidos deste país. Votar na Mata Nacional do Buçaco pode fazer a diferença! Abster-se não faz sentido neste caso...
19.7.10
Na outra margem
17.7.10
Kem esk?
«K: No essencial, o que o separa do CDS e do PS?
Custa-me a responder a essa pergunta. Não sei bem o que são hoje esses partidos e mesmo o que é o próprio PSD. Não há conjuntos coerentes de ideias identificáveis como a ideologia do CDS, ou do PS, ou do PSD. Há uma interpenetração. O PSD defende algumas políticas que o CDS defende e políticas que o PS também defende. Parte das minhas políticas passa por ser de Esquerda e outra parte por ser de Direita. E, para não ir mais longe, olhe que até o PS (...) propõe pontes privadas. Hoje, na prática, prevalece o pragmatismo e a credibilidade pessoal dos governantes.»
Se quiserem saber quem é o autor destas palavras, registadas em 1991, (re)leiam a K.
Custa-me a responder a essa pergunta. Não sei bem o que são hoje esses partidos e mesmo o que é o próprio PSD. Não há conjuntos coerentes de ideias identificáveis como a ideologia do CDS, ou do PS, ou do PSD. Há uma interpenetração. O PSD defende algumas políticas que o CDS defende e políticas que o PS também defende. Parte das minhas políticas passa por ser de Esquerda e outra parte por ser de Direita. E, para não ir mais longe, olhe que até o PS (...) propõe pontes privadas. Hoje, na prática, prevalece o pragmatismo e a credibilidade pessoal dos governantes.»
Se quiserem saber quem é o autor destas palavras, registadas em 1991, (re)leiam a K.
14.7.10
«Mais que humano feito»
Andei pelo Buçaco. Vale sempre a pena lembrar que fica aqui ao lado. O Palace Hotel inclui azulejos de Jorge Colaço com cenas de Os Lusíadas, de Autos de Gil Vicente e da obra Menina e Moça de Bernardim Ribeiro, datados de 1906. Por hoje, fiquem com o Adamastor!
Muito sol. e uma brisa a varrer aquela varanda...
10.7.10
Neptunus
o Neptunus tem uma cave. quando o capitão ordena, descemos ao "menos um" para ver o fundo do mar. ficamos dentro de um aquário invertido. nós, rodeados de vidros e oxigénio, a água no exterior. se o fundo do mar não decidir ficar nublado, podemos ver carcaças de velhos navios naufragados e até uma estátua que outrora estava plantada na costa. é um pequeno Cristo-Rei que nos fixa de braços abertos. é comovente. naquela pedra não há colónias de algas e peixes. é um milagre. submersos dentro do Neptunus é fácil acreditar em milagres. só há um senão: metade da tripulação enjoa sempre e nem ousa descer à cave. o Neptunus, ou a ondulação à volta da ilha do Sal, deixa as pessoas doentes ou milagradas. e isso está para além do pão nosso de cada dia. é natural, pois, que só os turistas procurem essa extraordinária experiência.
cartas de amor
Hoje não vieste. Para dizer a verdade, não dei conta disso até à hora de me deitar. (...) foi quando de facto pensei em ti, não tinhas vindo, não regressaste, prendeu-te a noite ou a luz, não deste conta do caminho. Eu desabituei-me de ti. Não é bem desabituar, foi mais qualquer coisa como ter deixado de esperar e, por distracção, ou por repetição automática do tempo e dos gestos, fechei a porta à chave.
(Carta p. 10)
Aqui a escrever-te de um café com pena de que o papel não reconheça o chá que tomo, a torrada, as vozes à volta, e só te vá encontrar transformada eu numa letra miudinha. (...)
(Carta p. 18)
Agora tenho aqui a tua carta à minha frente e não sei o que hei-de fazer com ela. Mas de que raio é que te foste lembrar - escrever-me, meu Deus, escrever-me uma carta, o que foste tu dizer-me por papel e sem cá estares? (...) de que raio de coisa te foste lembrar, não havias de vir cá buscar o fato do teu irmão? na terça-feira passada, não era? ele há-de estar a precisar dele, o sogro vai desta para melhor não tarda, Deus me perdoe, mas ainda bem que é assim, tanto sofrimento não serve para nada, a morte anda-lhe atrasada, é uma chatice, mas não deve tardar e assim é que deve ser. O que é que terás para me dizer que não tenha também morrido ainda? (...) de ti não sei, nunca tive a certeza, é melhor ficarmos por aqui, hás-de vir buscar o fato do teu irmão, vou guardar a tua carta no bolso do casaco dele.
(Carta pp. 21-22)
in cartas de amor de Luís Mendes
[e malmequeres . facas . amores-perfeitos de Alexandre Sampaio (adaptação ao teatro)][Papiro Editora, 2010]
Imagem: Jean-Sébastien Monzani, The Still Travelers.
(Carta p. 10)
Aqui a escrever-te de um café com pena de que o papel não reconheça o chá que tomo, a torrada, as vozes à volta, e só te vá encontrar transformada eu numa letra miudinha. (...)
(Carta p. 18)
Agora tenho aqui a tua carta à minha frente e não sei o que hei-de fazer com ela. Mas de que raio é que te foste lembrar - escrever-me, meu Deus, escrever-me uma carta, o que foste tu dizer-me por papel e sem cá estares? (...) de que raio de coisa te foste lembrar, não havias de vir cá buscar o fato do teu irmão? na terça-feira passada, não era? ele há-de estar a precisar dele, o sogro vai desta para melhor não tarda, Deus me perdoe, mas ainda bem que é assim, tanto sofrimento não serve para nada, a morte anda-lhe atrasada, é uma chatice, mas não deve tardar e assim é que deve ser. O que é que terás para me dizer que não tenha também morrido ainda? (...) de ti não sei, nunca tive a certeza, é melhor ficarmos por aqui, hás-de vir buscar o fato do teu irmão, vou guardar a tua carta no bolso do casaco dele.
(Carta pp. 21-22)
in cartas de amor de Luís Mendes
[e malmequeres . facas . amores-perfeitos de Alexandre Sampaio (adaptação ao teatro)][Papiro Editora, 2010]
Imagem: Jean-Sébastien Monzani, The Still Travelers.
7.7.10
Convite
A Papiro Editora e os autores Luís Mendes e Alexandre Sampaio têm o prazer de convidar V. Exa. a estar presente no pré-lançamento do livro cartas de amor /malmequeres.facas.amores-perfeitos que terá lugar no dia 9 de Julho de 2010, pelas 17h30, no Salão Nobre do Teatro Aveirense, Rua Belém do Pará, Aveiro
Apresentação da obra a cargo de Sónia Santos Alves.
Apresentação da obra a cargo de Sónia Santos Alves.
25.6.10
22.6.10
Carlos Souto (1943-2010)
Difícil acreditar! Adorava o Engº Carlos Souto. Dia muito triste. Obrigada pelas conversas tão vivas e interessantes, pela boa disposição permanente, pela generosidade, pela cervejinha fresca há tão poucas semanas no Mercado Negro, pelas brincadeiras com as minhas filhas no Merendeiro, pelo dinamismo aquando da exposição de pintura no ciclo «Silêncio», obrigada mesmo! Encontrar alguém como o Engº Carlos Souto por essas ruas de Aveiro, com a sua boina, a sua presença imensa, era umas das razões que me fazia gostar desta cidade (por vezes tão cinzenta). Este é um dia muito triste.
[Fotos tiradas em Abril 2010]
[Fotos tiradas em Abril 2010]
18.6.10
José Saramago (1922-2010)
"Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se até às paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido até à sala contígua, aí uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira, era a suite número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach composta em cöthen e não precisou de ter aprendido música para saber que ela havia sido escrita, como a nona sinfonia de beethoven, na tonalidade da alegria, da unidade entre os homens, da amizade e do amor. Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito, e por isso é que tinha joelhos, e pernas, e pés, e braços, e mãos, e uma cara que entre as mãos escondia, e uns ombros que tremiam não se sabe porquê, chorar não será, não se pode pedir tanto a quem sempre deixa um rasto de lágrimas por onde passa, mas nenhuma delas que seja sua. Assim como estava, nem visível nem invisível, em esqueleto nem mulher, levantou-se do chão como um sopro e entrou no quarto."
in As Intermitências da Morte (2005)
Editorial Caminho, pp. 158-159
13.6.10
LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isso
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
(n.13 de Junho de 1888)
Imagem: Capote (2006). Vale a pena. Acrílico sobre tela. 100x100 cm
7.6.10
Como se fosse um segredo...
Como se fosse um segredo que agora se tornou público! Um SIM que fica para a História. É o primeiro num longo tempo de silenciamento forjado ou forçado. Um SIM no primeiro dia do resto de muitas vidas. Depois, é claro, legislar é tanto e tão pouco. Oh, os cochichos vão continuar...
4.6.10
À escuta #106
S - Hoje, o dia correu-me mal... Quando há uma parte do dia que me corre mal, para mim é como se o dia todo corresse mal...
- Compreendo, mas qual foi a parte do dia que correu mal?
S - É esta, agora, porque tenho que me ir deitar!
27.5.10
Irmãos e irmãs
Telefónica vs PT; Mário Soares vs Manuel Alegre; Governo vs Desempregados; Indústria Farmacêutica vs Hospitais; So You think you can['t] danse vs Pedro Passos Coelho; BEI vs Parque Escolar; Apple vs Microsoft; PIDDAC vs Ministério da Cultura; José Mourinho vs Carlos Queiroz; Coreia do Norte vs Coreia do Sul; EP Estradas de Portugal vs utentes das SCUTs; Défice Nacional vs Teixeira dos Santos; 1% Crescimento vs 10.6% Desemprego (previsões OCDE); Cavaco Silva vs Lei das Uniões de Facto; The L-Word e Dr. House vs Cavaco Silva; Comissão de Inquérito do Parlamento vs José Sócrates; Cofidis vs Aumento de impostos; CSI e Betty Feia vs Sócrates, Armando Vara, Paulo yellow submarine Portas, Alberto Berlusconi Jardim ; Cold Case (Casos Arquivados) vs Procuradoria Geral da República, Casa Pia, Loja Pia, Tudo Pio; os media nacionais e regionais versus As Farpas.
À escuta #105
- Já viram o preço daquela camisa!
A (muito alto) - É um escândalo! Uma camisa normalíssima tão cara!
- Fala baixo.
A - Eles têm que saber o que os clientes pensam!
S - E achas que eles não sabem que os preços são altos? Eles fazem de propósito.
A - Mas se baixassem os preços havia mais pessoas a comprar...
S - Há palermas que gostam de pagar muito para os outros dizerem "epá, ele tem muito dinheiro!"...
A (outra vez alto) - Que preços doidos!
- Por favor, fala baixo.
A - Eles têm coisas giras. Há pessoas que só querem comprar porque é giro!
A (muito alto) - É um escândalo! Uma camisa normalíssima tão cara!
- Fala baixo.
A - Eles têm que saber o que os clientes pensam!
S - E achas que eles não sabem que os preços são altos? Eles fazem de propósito.
A - Mas se baixassem os preços havia mais pessoas a comprar...
S - Há palermas que gostam de pagar muito para os outros dizerem "epá, ele tem muito dinheiro!"...
A (outra vez alto) - Que preços doidos!
- Por favor, fala baixo.
A - Eles têm coisas giras. Há pessoas que só querem comprar porque é giro!
14.5.10
À escuta #104
- A., a minha amiga já chegou, vem cumprimentá-la!
(Não aparece)
- A., vem cumprimentar a minha amiga!
(Aparece mas não olha para ninguém, não cumprimenta)
- A., dá um beijinho, o que é que se passa!
(Vai embora)
[A sós com ela:
- (...) foste extremamente mal-educada, não aceito esse tipo de comportamento, já não és um bebé, faz o favor de ir cumprimentar a senhora!
A. - Acabei de acordar, não consigo ser simpática.
- Mas posso saber o que se passa? Qual é o problema? Não te reconheço!
A. (sempre num tom teatral) - A tua filha, eu, nem sempre tem vontade de agradar.__________ Podes pedir desculpa à tua amiga?
- És tu que vais pedir desculpa. Vem comigo.
(Não aparece)
- A., vem cumprimentar a minha amiga!
(Aparece mas não olha para ninguém, não cumprimenta)
- A., dá um beijinho, o que é que se passa!
(Vai embora)
[A sós com ela:
- (...) foste extremamente mal-educada, não aceito esse tipo de comportamento, já não és um bebé, faz o favor de ir cumprimentar a senhora!
A. - Acabei de acordar, não consigo ser simpática.
- Mas posso saber o que se passa? Qual é o problema? Não te reconheço!
A. (sempre num tom teatral) - A tua filha, eu, nem sempre tem vontade de agradar.__________ Podes pedir desculpa à tua amiga?
- És tu que vais pedir desculpa. Vem comigo.
- Não, não vou!
(Castigo - o mais terrível de todos: não há teatro, ou seja, novelas, Morangos com Açucar, até decisão contrária. mas, se isto for o início da puberdade, ... faço o quê?)(M., desculpa!)
À escuta #103
S. - Não gosto de cravo!
- Oh, mas o cravo é uma flor tão bonita, é o símbolo do 25 de Abril, depois passou a haver liberdade e democracia...
S. - Por favor, não gozes. Não gosto de cravo e não quero ir mais para o Conservatório!
- Vais continuar no cravo até ao final do período e depois mudas de instrumento.
S. - Não vou! Não quero ir mais!
- Falta um mês, vais e acabou a conversa!
S. - Que lindo, chegou mesmo a democracia com o 25 de Abril!
À escuta #102
A. - Qual é o verbo que na 3ª pessoa do plural do modo futuro se transforma num país?
- O quê?
A. - É um enigma.
- Ah...
A. - Pensa nisso. Depois dou-te a resposta.
À escuta #101
S. - Mamã, fiz uma asneira: inverti um copo de água na mesa...
- Verteste, verteste o copo de água!
A. - Não, ela inverteu, não percebes?
- Diz-se verter!
A. - Pois, mas ela inverteu porque é uma rapariga muito invertida!
11.5.10
4.5.10
Pensei que fosse brincadeira. mas as escolas vão mesmo fechar no dia 13 de Maio! Não sou deste país (ou não quero ser!). Laicidade, senhores!
2.5.10
20.4.10
De 22 a 25, o Silêncio... e a Festa!
Exibição do filme «Há lodo no cais» de Elia Kazan (EUA, 1958, 108'), seguido de debate com Maria do Rosário Fardilha. E depois, nova sessão de cinema (filme escolhido pelo público)/ Performas Dia 22 às 22h.
Inspirado no texto de George Steiner, «The retreat from the word», Painel IV, intitulado O DECLÍNIO DA ERA DA PALAVRA, com os profs. Isabel Cristina Rodrigues (UA/Dpto Línguas e Culturas), Fernando Almeida e Jorge Hamilton (UA/Dpto Geociências), David Vieira (UA/Dpto Matemática), moderado por João Martins (músico e sonoplasta)/ Performas Dia 23 às 22h
hã Toino de Lírio, o homem-estátua, António Gomes dos Santos/ Performas Dia 23 às 21h30 e 23h30
A cela branca de Ivar Corceiro, 6'13'' / [Painel V - SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA] Performas Dia 24 às 18h30
Dundo Memória Colonial, 60', documentário de Diana Andringa com a presença da jornalista-realizadora/ [Painel V - SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA] Performas Dia 24 às 18h30
Isabela Figueiredo / [Painel V - SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA] Performas Dia 24 às 18h30
CONCERTO DE CELINA PEREIRA, Mornas sem Tempo/ Performas Dia 24 às 22h30
Couscous Prosjekt, com Bagaço Amarelo e Moa bird/ Performas Dia 24 às 24h
Inspirado no texto de George Steiner, «The retreat from the word», Painel IV, intitulado O DECLÍNIO DA ERA DA PALAVRA, com os profs. Isabel Cristina Rodrigues (UA/Dpto Línguas e Culturas), Fernando Almeida e Jorge Hamilton (UA/Dpto Geociências), David Vieira (UA/Dpto Matemática), moderado por João Martins (músico e sonoplasta)/ Performas Dia 23 às 22h
hã Toino de Lírio, o homem-estátua, António Gomes dos Santos/ Performas Dia 23 às 21h30 e 23h30
A cela branca de Ivar Corceiro, 6'13'' / [Painel V - SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA] Performas Dia 24 às 18h30
Dundo Memória Colonial, 60', documentário de Diana Andringa com a presença da jornalista-realizadora/ [Painel V - SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA] Performas Dia 24 às 18h30
Isabela Figueiredo / [Painel V - SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA] Performas Dia 24 às 18h30
CONCERTO DE CELINA PEREIRA, Mornas sem Tempo/ Performas Dia 24 às 22h30
Couscous Prosjekt, com Bagaço Amarelo e Moa bird/ Performas Dia 24 às 24h
Exposição/manipulação de cartazes políticos com Francisco Madeira Luís/ Mercado Negro Dia 25 a partir das 16h
Cruzeiro Seixas - O Vício da Liberdade, 54', com presença do autor do documentário, o jornalista Alberto Serra/ Mercado Negro Dia 25 às 18h30
... e isto não é tudo, há mais e mais, o que foi sendo criado/recriado/instalado ao longo da última semana, o que se acrescenta nos próximos dias, bombos!, festa, muita festa, com textos sub-vers-ivos e m-ú-s-i-c-a contínua pela noite dentro... porque o silêncio acaba no dia 25 de Abril e nós queremos gritar "25 de Abril SEMPRE!"!
Links: Blogue e Programação detalhada