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21.2.09

A Evolução de Darwin

Este caderno que Darwin chamou "B" é o primeiro de uma série dedicada inteiramente à ideia de «transmutação» ou evolução. Iniciado em Julho de 1837, o caderno B é a pedra inaugural do pensamento darwiniano e nele se levantam todas as questões fundamentais da teoria evolutiva: como se formam as espécies, como se relacionam as espécies entre si, como é que ocorrem as adaptações. Neste caderno em que Darwin escreveu «I think...» e esboçou uma árvore evolutiva muito simples com as espécies representadas pelas letras A, B, C e D, escreveu também: «Entre A e C uma relação distante. [Entre] C e B uma gradação subtil. [Entre] B e D uma maior distinção. Assim se formariam os géneros». «Género» é o nome dado ao penúltimo nível na organização da classificação das espécies (cada espécie pertence a um género, estes são agrupados em famílias, que estão agrupadas em ordens e por aí fora) e designa um conjunto de espécies próximas. A árvore de Darwin assume que as espécies de um género surgem por descendência, partilhando um ancestral comum. A maioria dos observadores anteriores a Darwin atribuía o conjunto de espécies semelhantes de um género a um plano de criação divino.

O tema é fascinante. Vale a pena visitar a exposição patente na Gulbenkian até ao dia 24 de Maio comemorativa dos 200 anos do nascimento de Charles Darwin.

Em 1861, Darwin publica A Origem das Espécies. A obra só seria traduzida para português no século XX mas muitos escritores portugueses/lusófonos tiveram acesso a estas novas ideias e quiseram representar literariamente, e de forma crítica, a teoria darwinista da evolução do Homem. Deixo uma pequena lista de contos que reflectem o clima mental de «cientismo antropológico de cariz darwiniano»*:

- «A Dor» (1881), in Contos, de Fialho de Almeida
- «Adão e Eva» (1896), in Contos, de Machado de Assis
- «Adão e Eva no Paraíso» (1897), in Contos, de Eça de Queirós
- «Triunfal» (1913), in Jardim das Tormentas, de Aquilino Ribeiro
- «Paraíso Perdido» (1937), in Génesis, de Jorge de Sena

Na poesia, saliento:
- Poesia I, de José Régio
- Adão, Eva e o Mais, de António Osório


* Sobre a recepção da obra de Darwin em Portugal, nomeadamente em autores do século XIX, veja-se o livro de Ana Leonor Pereira, Darwin em Portugal (1865-1914), Almedina, 2001; e também: «Recantos do Paraíso» de António Manuel Ferreira, em O Conto em Língua Portuguesa, Nº 6, Forma Breve - Revista de Literatura, UA, 2008

Fotos MRF, Fev '09

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