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7.10.08

Suze #2

Dante Gabriel Rossetti
Lady Lilith, 1864-1868


"Acompanhava-a outra que mal vi, fisgado pelo estranho do seu tipo. Toda a noite, ferozmente, a encarcerei no meu binóculo e ela, exibindo atitudes de indiferença numa galeria intérmina, nem sequer teve o ar de ver-me.
Aborrecia-se com complacência, olhando sem fitar, cumprindo com resignação esse destino de, sobre uma plateia do Porto, num barracão de Folies-Brejeiras, esfolhar a carícia exangue e lambedora das suas mãos de raça.
No meu grupo faziam-se hipóteses. Cocotte? Cançonetista? Talvez seja essa que se estreia amanhã.
Todos a achavam imensamente estranha e alguma coisa feia.
Quando à saída ela passou, compondo um ar abstracto e passo ondeante de serpente-fantasma, excitado e burro, disse não sei que frase escória e ouvi, numa voz de seda que range, essa coisa justa: imbécile!
Deixei de ir ao teatro. Achei a vida toda tão imbecil como eu.
Até que uma manhã Just irrompe no meu quarto e preludia felicíssimo: «Foste um doido em não aparecer». Contou então: o empresário F. apresentara-o, e como eram duas e eu continuava incógnito, apresentou por sua vez o conde C., que ao menos não se arranjava mal. - «A tua, a do conde, chama-se Suzanne. A outra, a minha, é Gaby d'Anjou, é perfeita. Não sei se reparaste: um corpo grego. Há uns poucos de dias que isto nem parece o Porto -».
E partiu num turbilhão de chance, dizendo apenas, quase à porta, que a Suzanne era finíssima, e se tolerava o conde é porque não via melhor e porque, enfim, o Amieiro o não vestia mal.
Como, mesmo escrevendo, estou morto por chegar ao quarto dela, direi já que almocámos a sós dias depois, e nem sei mesmo se comi, porque estendia as mãos em concha aos seus pés magros, prós sentir crispar-se com luxúria ao ranger da seda em folha seca...
Foi rápido e simples. O meu amigo apresentou-me: o conde é lorpa, eu sou fino, ela é fina e ... voilá! "
-continua-

«Suze», de António Patrício (in Serão Inquieto), 1910

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