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20.6.08

Marcas da guerra I

Era o maior e mais representativo edifício do período Austro-Húngaro em Sarajevo. Foi construído com o propósito de albergar a sede da autoridade da cidade. O design inicial foi definido em 1891 pelo arquitecto karl Pãrik mas críticas do Ministro Benjamin Kállay impediram-no de prosseguir o projecto. Alexandar Wittek trabalhou no projecto entre 1892 e 1893, mas morreu no ano seguinte. A obra acaba por ser completada por Ciril Ivekovic. O edifício assumiu um estilo arquitectónico historicamente eclético, com predominância da expressão pseudo-mourisca, influência oriunda da arte Islâmica de Espanha e Norte de África. A inauguração formal ocorreu a 20 de Abril de 1896. Até 1949 foi, como previsto, a sede da cidade (o equivalente a uma Câmara Municipal), mas a apartir de então passa a albergar a Biblioteca Nacional e da Universidade da Bósnia e Hertzegovina (Nacionalna i univerzitetska biblioteka Bosne i Hercegovine). Na noite de 25 para 26 de Agosto de 1992, os Sérvios Nacionalistas bombardearam o edifício com artilharia pesada e uma enorme quantidade de bombas incendiárias. A Biblioteca albergava 1.5 milhões de volumes, incluindo mais de 155,000 livros e manuscritos raros, o arquivo nacional, o depósito de cópias de jornais e livros publicados na Bósnia e as colecções da Universidade de Sarajevo. Na sequência do ataque, a Biblioteca ardeu durante três dias. Quase todo o seu conteúdo ficou reduzido a chamas. Durante os três anos que durou o cerco a Sarajevo e a guerra no país, grande parte da herança cultural da Bósnia e Herzegovina foi destruída.

Recordo-me perfeitamente das imagens da Biblioteca em chamas. O simbolismo desse acto de guerra era claro - mas inaceitável. Anos depois, vivia em França, e assisti a um dos últimos programas de culto da televisão francesa - Bouillon de culture (1991–2001), da autoria de Bernard Pivot - gravado precisamente nas ruínas da Biblioteca de Sarajevo. Acho que foi nesse momento que decidi viajar até à Bósnia. O desejo foi realizado há pouco tempo. As ruínas da Biblioteca continuam lá, Bernard Pivot já não se sentiria em segurança quando entrasse no edifício (o interior está completamente barrado com muros de tijolo e placas de madeira). Sarajevo já restaurou grande parte do seu edificado mas não este Monumento. Ele continua ali, nas margens do rio Miljacka, como uma ferida aberta e incurável.


Fotos MRF
Maio 2008
(a primeira imagem é uma fotografia de um velho postal ilustrado)

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