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8.3.08

Dia da Mulher

Hoje, tenho que lhe dedicar o dia. Apesar do seu fracasso político, não tenho dúvidas de que é o bode expiatório de décadas de políticas de educação desconexas plenas de medidas assistemáticas que fragilizaram todo o sistema, professores incluídos. Não tenho dúvidas de que vai pagar pela oportunidade que deu à oposição de manipular a insatisfação de uma classe profissional, mesmo se a necessidade de avaliação dos professores _ cuja introdução no sistema é tão tardia, seja matéria de consenso entre partidos políticos (e até, dizem, entre professores). Vai pagar por muitos anos de vícios de forma e conteúdo nunca sancionados ou controlados. Vai pagar porque exige autonomia mas não há cultura nem motivação para uma autonomia responsável. Os professores querem autonomia mas não querem julgar os seus pares. Não gostam do modelo de avaliação, não têm tempo (argumentos válidos), mas também não têm vontade (a avaliação implica esforço e desconforto, gera com frequência tensões e injustiças mas, caros professores, em todos os sectores, é prática corrente). A Ministra vai pagar pelo país que temos. Quer delegar mas não há condições socio-culturais ou económicas para delegar. A um outro nível a Ministra delegou também responsabilidades - a autarquias. Fê-lo quando a maioria das autarquias estão falidas e, por isso (ou porque há sempre alguns empresários a quem convém agradar), por sua vez, as autarquias vão delegar a responsabilidade a consórcios privados (mais ou menos duvidosos) cuja preocupação maior será sempre a rentabilidade financeira e não a execução das cartas educativas homologadas pelo ME. Em Aveiro, uma parceria público-privada já foi aceite - mesmo se o QREN 2007/2013 prevê, por exemplo, Programas para Requalificação da Rede Escolar do 1º Ciclo do Ensino Básico e da Educação Pré-Escolar (com 70% de financiamento comunitário). Em Aveiro, Escolas e Parques de Estacionamento foram metidos num mesmo saco ou negócio e, curioso, só apareceu uma candidatura que foi logo aceite pela CMA.

A Ministra vai pagar pelo que fez, sem dúvida, mas também pelo que nunca foi feito e urge fazer, para além do que outros com um sentido ético duvidoso farão a partir das suas directrizes.

Eu tenho vontade de manifestar desagrado, mas não apenas pela Ministra. Mais do que descer uma rua com milhares de colegas motivados por sabe-se lá que razões, talvez não as minhas,__ eu gostaria mesmo era de arrancar cabelos a professores que não não têm ou perderam vocação e/ou competência e vão ensinar os meus filhos, a autarcas que adiam o arranjo do telhado da escola A e se sentem aliviados por não ser obrigatório que as escolas sirvam refeições a crianças do 1º ciclo, a pais cujos filhos frequentam escolas sem biblioteca ou recinto desportivo e nunca comparecem a reuniões das Associações de Pais__ nem a reuniões individuais com professores.

O dia de hoje, que se quer "histórico", será histórico porquê? O que vai mudar no país? No Agrupamento a que pertence a Escola que as minhas filhas frequentam, existe apenas um psicológo para um universo de cerca de 2 milhares de alunos. A escola das minhas filhas, frequentada por 347 alunos dos 6 aos 10 anos, não tem vigilante no portão de entrada (o conceito "Escola Segura" quer dizer o quê?). Em tempo de "Plano Nacional de Leitura" as minhas filhas não foram uma única vez a uma biblioteca pública e o estabelecimento que frequentam também não tem biblioteca escolar. Eu gostaria de ter visto os professores mobilizar-se de forma tão massiva pelos direitos dos seus alunos. Estaria lá com eles, teria entrado no autocarro 45 do distrito de Aveiro.

Mas enfim, que a jornada seja proveitosa e que o governo aprenda a planear e a implementar reformas. A ânsia reformadora não vale por si. Vimos isso na Saúde, hoje vamos ter a prova que faltava no domínio da Educação. E sobretudo, que o governo
aprenda a calar-se. É que a Ministra da Educação não deveria ter de pagar pelos discursos emocionados e inoportunos dos Ministros com outras pastas. A manifestação dos professores é o exercício de um direito inalienável.

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