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15.10.07

Economia sexual #3



«As pulsões pré-genitais são, por natureza, auto-eróticas, quer dizer associais; o instinto de destruição e o seu corolário erótico, o sadismo, são anti-sociais. Inserido à força na comunidade social, o indivíduo tem que renunciar aos seus próprios objectivos instintivos e aplicar as correspondentes energias (por amor ao objecto amado ou devido à coacção da educação) em objectivos importantes para a sociedade e para a civilização. Freud chamou a esse processo "sublimação".» pp. 113

«Temos que admitir que a deformação no amor tem um papel preponderante no desenvolvimento da crueldade, tanto no indivíduo como nas massas. A brutalidade da Guerra Mundial (e talvez mesmo a Guerra Mundial em si) não teria sido possível se a sede de poder de um punhado de dirigentes não tivesse encontrado qualquer eco na crueldade latente dos indivíduos. (...) Freud conseguiu explicar o entusiasmo bélico: a guerra significa a libertação colectiva dos recalcamentos e em particular das pulsões sexuais, com a autorização do pai, idealizado na pessoa do imperador; pode-se finalmente matar sem sentimento de culpabilidade.» pp. 91

«A sociologia não conseguiu dizer-nos ainda porque razão as massas se deixam submeter por alguns indivíduos. Nas condições de vida a que as massas foram submetidas até estes últimos anos (e muitas vezes hoje em dia), se os indivíduos tivessem sido submetidos às mesmas restrições sexuais das classes dominantes, não teriam faltado revoltas caóticas. Esta docilidade psíquica relativa das massas (...) é mais uma vez imputável, entre outras coisas, à liberdade relativa da genitalidade, porque a sua satisfação retira energia às pulsões sádicas. Evidentemente, quando a brutalidade de um indivíduo acorda, é muito mais primitiva e irreflectida do que nas classes dirigentes, porque lhes falta a fachada e a máscara do civismo.» pp. 93-94

«Consequentemente, todos os que pregam o ascetismo em nome de ideologias culturais ou religiosas e com isso só conseguem resultados opostos, andariam melhor, no seu próprio interesse, se dessem a sua colaboração ao desenvolvimento da sexualidade sensual e física; quer dizer, se se deixassem de "depreciar a vida amorosa" (Freud) e substituíssem o slogan Civilização ou Sensualidade por outro: Civilização na Sensualidade. Quando a civilização for uma sublimação e não já uma grande neurose colectiva, tudo o resto deveria vir por si.» pp. 117-118

in Psicopatologia e Sociologia da Vida Sexual (Die Funktion des Orgasmus), de Wilhelm Reich, Publicações Escorpião, Colecção editor/contraditor 6, Porto, Junho 2007


(Imagens via)

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