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16.7.07

Intercalares


Dos 196 mil eleitores (37.39% dos inscritos), 57907 (29.54%) votaram em António Costa. O PS venceu as eleições: nas 53 freguesias do concelho; sem coligações; sem maioria absoluta; com dispersão de votos à esquerda: Helena Roseta (10.21%), Ruben de Carvalho (9.3% para PCP-PEV) e Sá Fernandes (6.81% para o BE). São 6+2+2+1 mandatos.
Carmona Rodrigues e o PSD de Fernando Negrão/Marques Mendes conseguiram 3+3 mandatos. Surpreendente o posicionamento do ex-autarca e candidato independente (obteve 16.70% dos votos, ou seja, 32734 eleitores continuariam a confiar na sua liderança). Surpreendente, se este país não fosse o mesmo das gentes que votaram nas actuais presidências das Câmaras de Oeiras, Gondomar, Felgueiras, ou, durante anos, em Marco de Canavezes, Celorico da Beira, Ponta do Sol (Madeira) e... Enfim, deixemos para outro dia a discussão iniciada por Alexandre Herculano e Júlio Dinis (o primeiro defendia a criação de uma organização social baseada nos municípios, tais eram as virtualidades que neles encontrava; Júlio Dinis descrevia as autarquias como o reino dos caciques). Certo é que os resultados de Carmona Rodrigues tiram qualquer sentido ao discurso de Fernando Negrão. Desculpe, mas o eleitorado não "entendeu que o PSD devia ser castigado". O eleitorado apenas não apreciou o candidato proposto pelo líder social-democrata.
Confesso que gostei da nova primeira derrota do CDS de Paulo Portas (os ciclos de liderança do CDS-PP são como marés que não se renovam!). Portas iniciou o seu discurso de ocasião prometendo não falar em politiquês (palavra sua) mas, talvez para o caso de alguém desconhecer ainda o seu estilo, não fez mais do que exercitar essa linguagem. e, no entanto, o português simples bastava: o CDS-PP foi corrido da Câmara.
Manuel Monteiro é que não vai ficar a rir. É preocupante: o PND obteve menos votos (0.61%) do que o PNR (0.77%). São exactamente 1501 os simpatizantes lisboetas do Partido Nacional Renovador, com mais de 18 anos e suficientemente habilitados para se recensear numa Junta de Freguesia de forma a exercer o seu direito de voto.
Uma coisa é certa: o nível de abstenção nestas eleições autárquicas, em dia de céu nublado, confirmam a ineficácia (e morte) do discurso político actual. Não se trata de eliminar as questões e questiúnculas do quotidiano, porque elas são importantes. nem de fazer regressar à política o debate ideológico puro. Também não se trata de fazer de conta que a televisão não existe e que ela não tem a sua quota de responsabilidade neste movimento de sedução e enterro do povo na mediocridade. Trata-se de apostar na inteligência e na construção de uma visão da sociedade que esteja para além das medidas pontuais, populares e oportunistas. O nível da abstenção traduz apenas (tanto) essa ausência de visão, essa ausência de ideias grandes, amplas, sobre o nosso destino comum e as nossas aspirações, como habitantes de uma cidade-país-mundo. Hoje, esse discurso não existe, foi abandonado e é associado à esfera privada. Hoje, esse discurso de conteúdo (estudem a forma, marketeers da política) é preciso, pá.


Foto de Jean-Sébastien Monzani

2 comentários:

  1. Como eu digo no InApto este povo é burro. Ponto. Nem vale a pena estarmos com eufemismos, Maria. Por isso têm o que merecem. Pena é que os poucos esclarecidos tenham de levar com estes gajos sem culpa nenhuma.
    Desculpa a linguagem , mas tenho dias assim..

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  2. Não é burro, anda distraído e cansado, e por isso é facilmente deslumbrado. ou é jovem... Se calhar somos todos apenas muito novos e inocentes.

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