"- As gerações sucedem-se, don Salvatore. E, vendo bem, qual o significado de tudo isto? Será que, no fim, saberemos alguma coisa? Pense na minha família. Os Scorta. Cada um lutou à sua maneira. E, cada um à sua maneira, todos conseguiram superar-se. Para chegar a quê? A mim? Sou realmente melhor do que foram os meus tios? Não. Então de que serviram os seus esforços? De nada. Don Salvatore, de nada. É de chorar, ter de dizer isso.
- Pois é - respondeu don Salvatore -, as gerações sucedem-se. Basta que façamos o melhor que soubermos, que transmitamos alguma coisa e cedamos o lugar.
(...)
- Estava justamente a perguntar-me - prosseguiu o padre -, antes de chegares, Elia, no que se tornou a nossa aldeia. É o mesmo problema. A outra escala. Diz-me, em que se tornou Montepuccio?
- Num saco de dinheiro sobre um monte de pedras - respondeu Elia amargo.
- Sim, o dinheiro enlouqueceu-os. O desejo de possuir cada vez mais. O medo de lhe sentir a falta. O dinheiro é a sua única obsessão.
- Talvez - acrescentou Elia -, mas importa reconhecer que os montepuccianos já não morrem de fome. As crianças já não sofrem de malária e todas as casas têm água corrente.
- É verdade - disse don Salvatore. - Enriquecemos, mas quem avaliará, um dia, o empobrecimento que acompanhou esta evolução? A vida da aldeia é pobre. Estes cretinos ainda nem sequer se aperceberam."
in O Sol dos Scorta, um romance de Laurent Gaudé. pp 212
Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência.
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