Tinha um homem que amava, e um trabalho que me sustentava. O mínimo, dirás tu. Mas quase ninguém tem esse mínimo, é assim o mundo. Vive-se em falta, e em falha. o comum dos mortais vive em falta, e em falha. Toda a gente sabe disso, aparentemente, menos tu. E agora? Agora, como sempre, não te importas, e não moves nem o menor dos teus dedos. Aparentemente, não podes fazer nada por mim. Nunca pudeste. Deixaste-me cair no meio da noite.
Nem sequer me ouves, por muito que eu grite. Nunca vais ouvir esta mensagem. Mas se por acaso a ouvires, Deus, se por acaso ouvires esta mensagem, não afastes de mim o teu rosto: não cortes este fio de palavras que vou estendendo entre mim e ti, porque não me resta mais nada senão este fio imaginário - provavelmente tu não existes e falo sozinha, no nevoeiro e na noite, mas se por acaso existires e ouvires esta mensagem, não cortes o fio, Deus, não cortes este fio de palavras, e fica a escutar-me. Até ao fim.
Nem sequer me ouves, por muito que eu grite. Nunca vais ouvir esta mensagem. Mas se por acaso a ouvires, Deus, se por acaso ouvires esta mensagem, não afastes de mim o teu rosto: não cortes este fio de palavras que vou estendendo entre mim e ti, porque não me resta mais nada senão este fio imaginário - provavelmente tu não existes e falo sozinha, no nevoeiro e na noite, mas se por acaso existires e ouvires esta mensagem, não cortes o fio, Deus, não cortes este fio de palavras, e fica a escutar-me. Até ao fim.
autora: Teolinda Gersão
pré-publicação do conto (fragmento 6): Se por acaso ouvires esta mensagem
do livro: A Mulher que Prendeu a Chuva
editora: Sudoeste
[Para ler o conto completo, basta clicar em baixo no marcador Teolinda Gersão]
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