Imaginem uma sociedade em que, de um momento para o outro, com base em discursos governamentais, a população jovem começa a odiar e a menosprezar os mais velhos. Espontaneamente começam a surgir brigadas anti-velhos que actuam à noite ou, no auge da revolução, a qualquer momento, eliminando essa "escória", sem que a polícia interfira. A mudança é tão brusca que alguns destes "velhos" nunca chegam a acreditar e a adaptar-se aos novos tempos mas, para os reformados, ou apenas para aqueles que tenham alguns cabelos brancos (ah, pobres calvos!) ou andem curvados, torna-se muito perigoso existir. Existir é um ultraje! Uma saída à rua pode significar um ataque inesperado. Muitos "velhos" são assassinados. O ditador no poder foi claro: eles são um fardo para qualquer país, são uns parasitas que vivem das suas reformas. E o Estado deixa de pagar as pensões de velhice. Os jovens passam a vê-los como seres feios, decrépitos, egoístas, nojentos, uns porcos! Eles próprios, os "velhos", começam a dar-lhes alguma razão. Mas querem sobreviver! E então não há outra solução senão a de viver em semi-clandestinidade. Também é preciso ter muito cuidado com o que se diz e se faz para nunca contrariar ou provocar os jovens!
Um desses velhos, com quase 60 anos, é Isidro Vidal. Ele tem um grupo de amigos. Juntos, ou cada um à sua maneira, vão enfrentar a crise. Isidro é cauteloso, ...mas não é que numa conjuntura tão difícil se apaixona por uma jovem? Coisa de porco, pois!
Felizmente Isidro Vidal tem um diário e Adolfo Bioy Casares deu-nos permissão para ler o que ele escreveu nesses dias terríveis que vão de 23 de Junho a meados de Julho daquele ano. Digo-vos que a revolução acabou sendo regulada. Já quanto às ideias dominantes sobre a velhice, parece que subsistem uns problemas...
Se quiserem conhecer esta ficção absurda (só pode ser, Isidro estava caquéctico de certeza, ninguém humilha velhos!), abram as páginas de Diário da Guerra aos Porcos.
Diário da Guerra aos Porcos, de Adolfo Bioy Casares, foi escrito em 1969. Segundo Gabriel García Marquez, o romance foi escrito numa altura em que Bioy Casares se sentiu envelhecer e, talvez por isso, "esta crónica divertida e terna não envelhece nunca e é nova como a luz de qualquer dia". O romance toca as situações mais comoventes da vida humana e um dos nossos maiores medos: o do tempo e da proximidade da morte. A Cavalo de Ferro editou-o em Setembro de 2006. Já antes, em 2005, a mesma editora lançou O Sonho dos Heróis. Mas o livro que despertou a minha curiosidade pelo autor foi A Invenção de Morel.
Um desses velhos, com quase 60 anos, é Isidro Vidal. Ele tem um grupo de amigos. Juntos, ou cada um à sua maneira, vão enfrentar a crise. Isidro é cauteloso, ...mas não é que numa conjuntura tão difícil se apaixona por uma jovem? Coisa de porco, pois!
Felizmente Isidro Vidal tem um diário e Adolfo Bioy Casares deu-nos permissão para ler o que ele escreveu nesses dias terríveis que vão de 23 de Junho a meados de Julho daquele ano. Digo-vos que a revolução acabou sendo regulada. Já quanto às ideias dominantes sobre a velhice, parece que subsistem uns problemas...
Se quiserem conhecer esta ficção absurda (só pode ser, Isidro estava caquéctico de certeza, ninguém humilha velhos!), abram as páginas de Diário da Guerra aos Porcos.
Diário da Guerra aos Porcos, de Adolfo Bioy Casares, foi escrito em 1969. Segundo Gabriel García Marquez, o romance foi escrito numa altura em que Bioy Casares se sentiu envelhecer e, talvez por isso, "esta crónica divertida e terna não envelhece nunca e é nova como a luz de qualquer dia". O romance toca as situações mais comoventes da vida humana e um dos nossos maiores medos: o do tempo e da proximidade da morte. A Cavalo de Ferro editou-o em Setembro de 2006. Já antes, em 2005, a mesma editora lançou O Sonho dos Heróis. Mas o livro que despertou a minha curiosidade pelo autor foi A Invenção de Morel.
"As pessoas afirmam que muitas explicações convencem menos do que só uma, mas a verdade é que há mais de uma razão para quase tudo. Dir-se-ia que se encontram sempre vantagens para prescindir da verdade."
[p. 22]
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