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14.1.07

Ricardo III

Os actores Luis Vicente (Ricardo III) e Maria José (Cecily Neville)

ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve
Luís Vicente (Dramaturgia e Encenação)
William Shakespeare (Texto)

Ricardo, Duque de Gloucester, está decidido a ser rei. Para o conseguir começa por assassinar o rei Henrique VI e o filho deste, Eduardo. Depois convence o seu irmão Eduardo, entretanto rei (Eduardo IV), de que o outro irmão de ambos, Clarence, conspira contra ele. Clarence é encarcerado na Torre de Londres onde é morto por uns sicários de Ricardo. Ricardo, entretanto, fez a corte a Ana, viúva de Eduardo, por ele assassinado, e casa-se com ela. Dá a saber da morte de Clarence ao enfermo Eduardo IV que morre não se sabe se de remorso se ás próprias mãos de Ricardo. Na linha de sucessão do trono estão dois meninos, filhos de Eduardo IV, sobrinhos de Ricardo. Com a cumplicidade de Buckingham os meninos são encarcerados e depois assassinados. Ana é também assassinada por Ricardo porque a ele convém casar-se com uma jovem filha de Henrique VI (que ele assassinara). No meio de tumultos e conspirações Buckingham reclama as posses que lhe tinham sido prometidas por Ricardo a troco de o ajudar a conseguir o trono. Ricardo recusa dár-lhas. Buckingham revolta-se... Acima de tudo, o que nos interessa do texto de Shakespeare são os aspectos de contemporaneidade que encontramos no proceder e na governação desse monarca que reinou na Inglaterra do século XV, mais precisamente a sua relação com o Poder. É nisto que reside a actualidade do tema e, consequentemente, a leitura que dele fazemos. Ricardo III será, portanto, um espectáculo iniludível e incontornavelmente político.

Outros tiranos, muitos, poderiam figurar no retrato de Ricardo III, mas, nos dias que correm, salienta Luís Vicente, há um que encaixa perfeitamente na personagem: George W. Bush, o presidente dos Estados Unidos da América. “Como fez notar o Al Pacino (que fez uma encenação muito interessante de Ricardo III), a peça trata essencialmente das relações de poder no seio de uma família de mafiosos. E será que os fundamentalistas não são assim uma espécie de família mafiosa? O Bush não é um fundamentalista? É este o pano de fundo da minha abordagem a Ricardo III.” in Observatório do Algarve

Sim, este Ricardo III, levado a cena pela ACTA, é uma abordagem contemporânea, e não histórica, da peça de Shakespeare. Do figurino à projecção de imagens de guerra (Iraque, Palestina, ...). A encenação envolve o público. Ontem à noite participei na intriga que levou Ricardo III ao trono. Intriga é a palavra chave. E depois os diálogos embebidos de retórica, as coalizões, as tentativas (bem sucedidas) de persuasão, a violência (extrema), os discursos de guerra, os vícios do Príncipe, a permanência do conflito. Ou Contribuições para uma moderna Teoria Política. Shakespeare, em 1592-1593, introduz assim a política no teatro. A política, como tema central. Não mais a relação do homem com o divino. O homem entre os homens e mulheres. O poder. A ambição. Jogos de força. E por fim, a queda. No seu teatro, enfatiza-se o declínio, a morte, dos homens poderosos. Ricardo III caiu. "Meu reino por um cavalo!"

E outros tiranos, cairão?

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