Antes do sketch, uma explicação sobre o percurso de Élie Semoun e a forma como se encara o humor em França. É seguramente um dos países onde os humoristas têm maior liberdade de expressão. Governantes, dossiers políticos sensíveis ou problemas relacionados com a imigração (questão quente neste país) não escapam ao olhar crítico dos autores dos textos. Sente-se que o humor quer e pode incomodar a norma, o estabelecido, e são muitos os que o usam deliberadamente contra. Se o fizerem divinamente, as portas abrem-se, mesmo em territórios hostis. Sinto falta desse ambiente em Portugal. São raros os momentos de boa sátira. e sobretudo, não existem várias vozes que, distintas e talentosas, agitem águas diferentes.
Como humorista, Élie Semoun tornou-se conhecido fazendo duo com Dieudonné. Em França, existe uma longa tradição de duos cómicos, de duplas de "idiotas" que entram em diálogos alucinantes, na linha de Bouvard e Pécuchet (1881) de Flaubert. Nos anos 60, o género foi popularizado por Jean Poiret e Michel Serrault. Quem nunca viu uma encenação ou adaptação ao cinema da Gaiola das Malucas?
Neste duo, um deles representava sempre o papel do pateta ou ingénuo, chegando a situações de incompreensão mútua e a quiproquos que provocavam o riso pegado. Nos anos 70, Guy Bedos e Sophie Daumier compuseram o duo de maior sucesso, e Drague/engate ainda nos faz rir. Pierre Palmade e Michèle Laroque, mais recentemente, especializaram-se nas pequenas hipocrisias da vida conjugal. Nos anos 80, foi a vez de Chevalier e Laspallès se notabilizarem. Hoje, Eric e Ramzy fazem a festa.
Mas até 1997, Semoun e Dieudonné foram um duo que fez furor. Imaginem a acutilância deste humor a dois. Dieudonné é um fervoroso defensor dos direitos dos negros, já concorreu várias vezes às legislativas em França, os seus apoiantes chegaram a invadir um estúdio da France-3, manifestando-se contra o racismo anti-Negros que as televisões de serviço público fomentariam. O seu curriculum político passa ainda por uma detenção por apologia a actos de terrorismo: em Fevereiro de 2002 afirmou que preferia o carisma de Bin Laden ao de George Bush (o "tribunal correctionnel de Paris" deixou que saísse em liberdade). Talvez se lembrem dele como "Caius Céplus" no filme Astérix et Obelix - Mission Cleopatre, de Alain Chabat. A relação com Élie Semoun azedou quando começou a emitir opiniões anti-semitas ou interpretadas como tal.
Élie Semoun é ateu mas tem origem judia. Do ponto de vista político, as suas posições são moderadas. Apoiou Bertrand Delanoë para a Mairie de Paris nas eleições municipais de 2001 e Lionel Jospin para as presidenciais de 2002.
Os opostos deixaram de se atrair mas, quando conheci Élie Semoun, os media ainda exploravam o tema da ruptura artística (e o fim da amizade) com Dieudonné.
Diga-se que Semoun, a solo, é excelente. Tem a seu favor a facilidade da escrita. Muito novo publicou dois livros de poemas, Le Poémoir e Le Plaisantriste. Alguns textos dos seus sketcks mais recentes podem ser lidos aqui. Por vezes comparam-no a Raymond Devos, sendo Semoun o novo poeta do absurdo. Ele agrada-me. Não existe tema que não aborde, mesmo os mais difíceis, e fá-lo com inteligência e muita graça.
No vídeo que deixo aqui, ele interpreta o papel de um agente funerário. É o extracto de uma peça em que toda a cena se passa num velório. Como ele diz, "a morte pode acontecer a toda gente". Então, por que não brincar com o teatro da vida?
Neste duo, um deles representava sempre o papel do pateta ou ingénuo, chegando a situações de incompreensão mútua e a quiproquos que provocavam o riso pegado. Nos anos 70, Guy Bedos e Sophie Daumier compuseram o duo de maior sucesso, e Drague/engate ainda nos faz rir. Pierre Palmade e Michèle Laroque, mais recentemente, especializaram-se nas pequenas hipocrisias da vida conjugal. Nos anos 80, foi a vez de Chevalier e Laspallès se notabilizarem. Hoje, Eric e Ramzy fazem a festa.
Mas até 1997, Semoun e Dieudonné foram um duo que fez furor. Imaginem a acutilância deste humor a dois. Dieudonné é um fervoroso defensor dos direitos dos negros, já concorreu várias vezes às legislativas em França, os seus apoiantes chegaram a invadir um estúdio da France-3, manifestando-se contra o racismo anti-Negros que as televisões de serviço público fomentariam. O seu curriculum político passa ainda por uma detenção por apologia a actos de terrorismo: em Fevereiro de 2002 afirmou que preferia o carisma de Bin Laden ao de George Bush (o "tribunal correctionnel de Paris" deixou que saísse em liberdade). Talvez se lembrem dele como "Caius Céplus" no filme Astérix et Obelix - Mission Cleopatre, de Alain Chabat. A relação com Élie Semoun azedou quando começou a emitir opiniões anti-semitas ou interpretadas como tal.
Élie Semoun é ateu mas tem origem judia. Do ponto de vista político, as suas posições são moderadas. Apoiou Bertrand Delanoë para a Mairie de Paris nas eleições municipais de 2001 e Lionel Jospin para as presidenciais de 2002.
Os opostos deixaram de se atrair mas, quando conheci Élie Semoun, os media ainda exploravam o tema da ruptura artística (e o fim da amizade) com Dieudonné.
Diga-se que Semoun, a solo, é excelente. Tem a seu favor a facilidade da escrita. Muito novo publicou dois livros de poemas, Le Poémoir e Le Plaisantriste. Alguns textos dos seus sketcks mais recentes podem ser lidos aqui. Por vezes comparam-no a Raymond Devos, sendo Semoun o novo poeta do absurdo. Ele agrada-me. Não existe tema que não aborde, mesmo os mais difíceis, e fá-lo com inteligência e muita graça.
No vídeo que deixo aqui, ele interpreta o papel de um agente funerário. É o extracto de uma peça em que toda a cena se passa num velório. Como ele diz, "a morte pode acontecer a toda gente". Então, por que não brincar com o teatro da vida?
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