Talvez por ser mulher, sinto mais dificuldade em identificá-las. O processo inverte-se, quem me salta à vista são as que pressinto ainda "velhas". "Velhas" são as que fazem poesia a rimar e passam o tempo todo a queixar-se dos homens que as deixaram. São as que põem melodias Midi nos blogs. E as que simulam, ou não, susceptibilidade face a meia dúzia de palavrões ou contra-tabus. Ora essa! As "novas" são flexíveis. As "novas" re-inventam tudo, mesmo o que é velho. Conseguem elevar-se e observar-se no seu quotidiano, mesmo assumindo a continuidade de tarefas seculares, que rompem com reflexões, ironia e humor qb. Ou seja, as "novas mulheres" não são um produto da alteração efectiva dos papéis tipicamente masculinos ou femininos. As "novas mulheres" são uma nova atitude. Os franceses inventaram o nome certo para este exercício de inteligência: autoderision. É a autoderision que nos faz sorrir quando juntamos às actividades assalariadas uma carga não reduzida de trabalho doméstico. ou quando somos pais e mães porque o pai só sabe ser pai. ou quando perdoamos o que não nos perdoam. ou nada disso, se tivermos coragem para remar sozinhas contra a corrente. É também à custa desta autoderision que novas escritoras têm emergido. na blogosfera e na literatura. Não vos falo de blogs de gaijas. ou de literatura light, tão mais associada às mulheres que aos homens (mas o que é aquilo que o Paulo Coelho industrializou?). Isso é de "velhas". Falo-vos de uma escrita em que se evoca a intimidade, que parte do ser para o mundo, do onto para o cosmos. Dizem os críticos que, nos últimos anos, essa corrente se tem reforçado graças às mulheres. Concordo. Mas nada de confusões, não se reduza intimidade a sexualidade. É que o despudor ou a linguagem erótica (coisas já distintas) na escrita notabilizam mais facilmente as mulheres que os homens. Dizem que é novo. Novo porque convém, ou esqueceram a Anais Nin. Como ela dizia, nós não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos. E nós somos ainda essa imagem que se quer da mulher. complexa mas imaculada. polifacetada mas convexa. inocente mas, ou sobretudo com, picante.
Que este Natal de 2005 seja uma oportunidade para encontrares o que mais ambicionas na tua vida.
ResponderEliminarMuita Paz, muita Alegria e muito Amor, para o ano que aí vem!