Eu sei que não seria o que sou se tivesse nascido num continente, com a consciência que para lá do meu horizonte há uma imensidão de terra até haver mar. Seria, se calhar, o inverso do que sou. Porque o cenário da minha vida foi sempre esse: uma imensidão de mar até haver terra. O meu infinito é feito de água, tem uma linha que parece recta, mas é curva. Está ali desde que nasci, continuará depois de morrer. A esperança e os pesadelos têm a sua forma.
Nascer e crescer numa ilha é, sem dúvida, uma marca. Os ilheus, quando se encontram, reconhecem-se. Sabem que são únicos, que a vida caminhou por si, longe das mudanças e tormentas que chegam por terra. O mar, sempre o mar, transformam-nos em prisioneiros, mas deixam-nos a salvo. E, talvez por isso, eu gostei mais de Londres do que de Paris, apesar de Paris ser mais bonita.
Aqui, onde a evolução não alterou a geografia, somos terra, água, vento que sopra. Somos também o cruzamento de todos os que chegaram. Piratas argelinos, navegadores de todas as nacionalidades, escravos negros, mouros e portugueses. Os que vieram para fazer fortuna, os que fugiram. Somos os herdeiros de um imenso porto, divididos entre partir e ficar. De olhos postos no mar, nos barcos, mas agarrados ao recorte das montanhas.
Incapazes de esquecer as Primaveras, quando tipuanas e jacarandás cobrem as ruas de flores violeta e amarelas. Tristes e sombrios, quando faltam o sol e os banhos num mar de veludo, numa água nem quente, nem fria. Perdidos se nos tirarem o Natal, essa festa que torna Dezembro um mês mágico. Somos isto. Sou isto também, embora me tenha feito gente no sonho do Mundo. É verdade. Hoje, depois de muitas disputas, sei. Sei que, com todas as influências que já teve, a minha voz terá sempre o som das ondas a arrastar os calhaus da praia. Sou da Ilha, como diziam os marinheiros ingleses.
Tenho, por isso, no corpo, na alma, no modo de sentir e pensar a insularidade. A marca, por vezes, doí como a cicatriz de uma ferida antiga e funda.. É a partida que temos como certa, a noção exacta que, para nós, o Mundo tem lados. Lugares para onde, por sortilégio, tendem a fugir todos os que amamos. Ou então partimos nós, deslidudidos com a ilha, alimentando a esperança de algo melhor. O quê nem se sabe. Eu, pelo menos, não soube antes, não sei hoje. Sei apenas que levei anos a conciliar-me com as raízes, a aceitar-me como sou.
Senti-me excessiva quando cheguei a Lisboa, como se tudo em mim saisse das medidas. Não posso negar que, pela primeira vez na vida, o ar entrava-me nos pulmões de forma livre. Encontrei amigos para a vida e fui muito feliz. Há, nas finas teias que tecemos, nos laços que fazemos, pontas que ficam sempre soltas, desamparadas. Em Lisboa, alguns desses cabos ficaram por ligar. Ainda hoje, quando caminho pelas ruas, quando entro no Metro e olho aquelas caras tristes, sinto o mesmo frio. Ali, apenas me aquece a amizade, o estar com os amigos. Nunca serei dali. Não há nada a fazer quanto a isso. Vivi quatros anos naquela cidade e nunca senti a paixão que me prendeu para sempre a Joanesburgo, a África.
Aqui, onde a evolução não alterou a geografia, somos terra, água, vento que sopra. Somos também o cruzamento de todos os que chegaram. Piratas argelinos, navegadores de todas as nacionalidades, escravos negros, mouros e portugueses. Os que vieram para fazer fortuna, os que fugiram. Somos os herdeiros de um imenso porto, divididos entre partir e ficar. De olhos postos no mar, nos barcos, mas agarrados ao recorte das montanhas.
Incapazes de esquecer as Primaveras, quando tipuanas e jacarandás cobrem as ruas de flores violeta e amarelas. Tristes e sombrios, quando faltam o sol e os banhos num mar de veludo, numa água nem quente, nem fria. Perdidos se nos tirarem o Natal, essa festa que torna Dezembro um mês mágico. Somos isto. Sou isto também, embora me tenha feito gente no sonho do Mundo. É verdade. Hoje, depois de muitas disputas, sei. Sei que, com todas as influências que já teve, a minha voz terá sempre o som das ondas a arrastar os calhaus da praia. Sou da Ilha, como diziam os marinheiros ingleses.
Tenho, por isso, no corpo, na alma, no modo de sentir e pensar a insularidade. A marca, por vezes, doí como a cicatriz de uma ferida antiga e funda.. É a partida que temos como certa, a noção exacta que, para nós, o Mundo tem lados. Lugares para onde, por sortilégio, tendem a fugir todos os que amamos. Ou então partimos nós, deslidudidos com a ilha, alimentando a esperança de algo melhor. O quê nem se sabe. Eu, pelo menos, não soube antes, não sei hoje. Sei apenas que levei anos a conciliar-me com as raízes, a aceitar-me como sou.
Senti-me excessiva quando cheguei a Lisboa, como se tudo em mim saisse das medidas. Não posso negar que, pela primeira vez na vida, o ar entrava-me nos pulmões de forma livre. Encontrei amigos para a vida e fui muito feliz. Há, nas finas teias que tecemos, nos laços que fazemos, pontas que ficam sempre soltas, desamparadas. Em Lisboa, alguns desses cabos ficaram por ligar. Ainda hoje, quando caminho pelas ruas, quando entro no Metro e olho aquelas caras tristes, sinto o mesmo frio. Ali, apenas me aquece a amizade, o estar com os amigos. Nunca serei dali. Não há nada a fazer quanto a isso. Vivi quatros anos naquela cidade e nunca senti a paixão que me prendeu para sempre a Joanesburgo, a África.
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