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25.8.05

António Franco Alexandre

Tenho esta impressão de que deixo escapar durante muito tempo coisas e pessoas belíssimas. E depois, de tempos a tempos, num repente, sem óbvia razão, descubro uma. E apaixono-me. Hoje deambulava pela livraria quando reparei numa capa preta que dizia um nome que normalmente me afastaria: ARACNE. Foi assim que conheci António Franco Alexandre, transformado em aranhiço. Disse-me assim:

Vai tão pequena a teia, que lamento
ter perdido o meu tempo em outros jogos,
pois com talento e tempo poderia
abandonar a fria geometria
e desenhar figuras, tão reais
que nelas revelasse
a verdade maior da fantasia
. (...)

Acreditei, deixei-o tentar atrevimentos:

Ir ao cinema, na caverna escura,
sentar-me na poltrona do teu ombro
numa t-shirt antiga de bom pêlo,
é o prazer mais certo que me resta.
Que bom deixar-me estar na oscilação discreta
que nasce do teu corpo e me transporta
a essa embriaguez chamada rima;
sentir o cheiro limpo do cabelo,
adivinhar-te o gosto da saliva
.(...)

... contar-me histórias:

Fui ao banquete onde se celebrou
o hit mais recente da cigarra,
mas ao primeiro vinho fiquei tonto,
adormeci no linho da toalha
.(...)

Como vai acabar esta paixão ainda não sei! Mas pode um aracnídeo inadaptado mascarar-se de humano, descer da teia ao palco, cantar, ao clássico balcão, a serenata?

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