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5.3.05

Soneto do Desmantelo Azul

Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas
enfim, nós derramamos simplesmente azul
sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós,
nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso
espaço
pudesse haver de azul
também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.


Carlos Pena Filho

1 comentário:

  1. Será, então, mais uma afinidade: Carlos Pena Filho.
    Adorei e deixo este Soneto Oco, do mesmo autor.

    «Neste papel levanta-se um soneto,
    de lembranças antigas sustentado,
    pássaro de museu, bicho empalhado,
    madeira apodrecida de coreto.

    De tempo e tempo e tempo alimentado,
    sendo em fraco metal, agora é preto.
    E talvez seja apenas um soneto
    de si mesmo nascido e organizado.

    Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
    pois não sei como foi arquitetado
    e nem me lembro quando apareceu.

    Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
    olha pois este jogo de exilado
    e vê se entre as lembranças te descobres».

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