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19.1.05

Dans ces bras-là


Thomas Schmidt

Um fragmento da escrita, feminina sensual sensível romanesca, de Camille Laurens.

O marido sente uma pequena dificuldade em tornar-se o marido - ele diz-lhe olhos nos olhos na Closerie des Lilas, uma noite muito tarde: ele não é livre. Ele vive muito perto dali com uma mulher mais velha que ele, a quem se mantém unido. Mas ele vai romper, ele quer casar-se com ela; ela, ele adora-a.
Eles conhecem-se há três dias. Ela responde-lhe que também ela não é livre: ele chama-se Amal, partiu para viver em Nova Iorque e ela devia ir lá ter com ele, mas agora já não vai, acabou.
Eles apresentam-se: ela faz dança, ela tenta escrever, ela gosta de Guillaume Apollinaire; ele foi nadador de competição, ele compõe poemas que não interessam a ninguém, ele gosta de Yeats, T.S. Eliot, Shakespeare, de teatro, ele detesta a actualidade e roda num XK 120 branco, um dia ele vai levá-la, ela vai compreender. Nessa noite, na Closerie des Lilas, eles vão maravilhar-se com as suas semelhanças. A noite, em casa dela, uma imensa tempestade rebenta no momento em que se beijam - noites eléctricas, peles magnéticas. Os deuses ficam com ciúmes.
Eles casam-se. Ele ensina inglês em Rouen, ela é bibliotecária em Vernon, eles moram em Paris. Eles encontram-se no combóio quase todos os dias - é a mesma linha -, esgotados, apaixonados, eles fazem amor, eles não param.
Uma sexta-feira, ele avisa-a que não vem dormir a casa, que tem de acompanhar uns colegas ingleses a Havre. "Tu vais fazer-me falta", disse ela - como quando perdemos um combóio.*


A suivre...


* (Traduzido do francês: Laurens, Camille, Dans ces bras-là, P.O.L. éditeur, 2000, pp 142-143. Na última frase o duplo sentido da palavra manquer não é traduzível, pelo que deixo o original: "Tu vas me manquer", dit-elle - comme on manque um train.)

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