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10.1.05

A Cosmética do Inimigo


Amélie Nothomb

A 24 de Março de 1999, os passageiros que aguardavam a partida do voo para Barcelona assistiram a um espectáculo inacreditável. Quando o avião já estava com três horas de atraso não explicado, um dos passageiros levantou-se do lugar onde estava sentado e começou a bater com a cabeça contra uma das paredes da sala, uma vez e outra. Movia-o uma violência tão espantosa que ninguém ousou intervir. E continuou até morrer.
As testemunhas daquele suicídio inqualificável foram unânimes quanto a um pormenor. De cada vez que batia com a cabeça contra a parede, o homem acompanhava aquele gesto com um grito. E aquilo que ele gritava era:
- Livre! Livre! Livre!


Esta notícia, lida num jornal, levou Amélie Nothomb a escrever um livro. Sobre a história que ela nos conta nada direi, mas de página em página, até ao surpreendente final, acompanhamos os pensamentos de um homem, Angust, que se sente perseguido. O livro chama-se A Cosmética do Inimigo e está editado pela Bizâncio. Amélie Nothomb é belga mas nasceu no Japão (1967). A sua ligação ao país do sol nascente é uma marca incontornável na sua obra (pelo menos na Metafísica dos Tubos e em Temor e Tremor, livros que já li). Mas este livro é diferente. Este livro revela apenas, mais uma vez, a sua capacidade de pegar numa visão particular, de assumir um universo singular, e construir todo um mundo a partir daí.


O post anterior é já uma homenagem a esta escritora. Lembro-me de começar a ler a Metafísica dos Tubos e de sentir uma enorme vontade de partilhar esse livro com toda a gente. Li tantas vezes aquele primeiro capítulo (em francês parece-me ainda mais poético) que quase o fixei por inteiro, poderia declamá-lo! A passagem para o segundo capítulo foi outra revelação. Espero convencer-vos a espreitar esta autora, em Portugal ela ainda é pouco conhecida. No post seguinte, voltarei a ela. Por agora, releiam o fabuloso início da Metafísica dos Tubos e digam-me quem imaginam que seja Deus!

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