Enterneço-me como uma adolescente com pequenos registos de amor ou saudade ou simplesmente de curiosidade em relação ao meu país. Há 10 anos, em Praga, numa pequena loja de discos, um sujeito com pouco mais de vinte anos veio ter comigo porque queria que eu soubesse que ele andava a aprender a minha língua. numa escola? não tenho dinheiro para isso, comprei umas cassetes e todas as manhãs faço exercícios de português. gosto muito de Portugal. porquê? porque é um pequeno país como o nosso que tem uma grande história e fica no extremo da Europa. Ah! ainda hoje o imagino no seu apartamento pequenino a repetir, com aquele sotaque que até era bonito, o que a voz portuguesa ditava, "co-mo te cha-mas?"...
Anos mais tarde, sozinha nas ruas de Bath, comecei a ouvir uma melodia que me parecia familiar. seria possível encontrar ali Dulce Pontes? segui a música até a encontrar num bar quase vazio ao pé das termas romanas. sentei-me ao balcão e pedi uma bebida qualquer enquanto cantarolava com a Dulce. o empregado anglosaxónico não podia perceber a minha emoção. foi o boss que comprou o CD já há algum tempo. Grrr!
Será este sentimento tão provinciano, próprio dos cidadãos dos países (ou fragmentos de países) periféricos, mas tão espontâneo e natural e invasor e doce, o mesmo que nos leva a decorar janelas com bandeiras nacionais em épocas de campeonatos de futebol? ou o futebol tem razões que o meu coração desconhece?
O futebol gera as suas próprias emoções, é claro. Mas como explicamos que, no passado domingo, o minuto mais televisionado tenha ocorrido às 13 horas em ponto? era o momento dos penaltis e nesse minuto os colombianos cometeram o segundo erro (depois aproveitado por Pedro Emanuel). Segundo a Marktest, a audiência desse minuto foi de 2 101 800 espectadores. todos com os olhos postos no écran.
Mais de dois milhões! De todos os partidos, credos ou clubes desportivos. que poder!
Face à grandeza dos números pareceu-me ainda maior a responsabilidade daqueles que investigam e julgam processos como aquele em que Pinto da Costa estará envolvido.
Mas esses milhões que suspenderam as suas vidas entre as 10:08 e as 13:02 de domingo, fizeram-no pelo país ou pelos volteios do jogo? as duas coisas? que poderosa mistura!
(mais de dois milhões! é ópio.
P.S.: o título deste post foi roubado a um livro do António Alçada Baptista
É... e a vida é assim!
ResponderEliminarAinda somos um país, ainda existem pessoas que se interessam por nós.
E nós cá vamos vivendo. Mal, mas vivendo!
Curioso... em Maio estive na Estónio onde conheci pessoas de vários paises de leste, e várias me disseram que a lingua portuguesa era muito bonita pois era bastante suave. Entre elas estava uma rapariga polaca (ou seria eslovaca?) que tinha apreendido portugues por iniciativa própria e tinha vindo a há anos atrás visitar Lisboa (que achou muito bonita). existe sempre uma mas... ela disse que as pessoas nos transportes publicos falavam imenso e muito alto, especialmente se entrassem em grupo. Estariam a falar de futebol? :-)
ResponderEliminarÉ isso. Quando a gente está lá fora parece que a identidade de português vem ao de cima. Aconteceu-me também em Bath, creio que em 1989 ou 1990, ao ouvir um cego a tocar "Abril em Portugal" num serrote com um arco. Vieram-me as lágrimas aos olhos nem sei porquê, se pela arte de ele tocar serrote, se a audiência silenciosa - acho que era em frente à livraria Waterstones - não sei. Por isso, compreendo muito bem o seu post. Saudações. OLima
ResponderEliminarondas.blogs.sapo.pt
Nós, nos nossos sentimentos tão contraditórios e tão fortes em relação a nós próprios, precisamos tanto destas coisas!...
ResponderEliminarÉ isso Olima, foi longe de Portugal que descobri como pertenço a este cantinho. E tb foi aí que mais me "zanguei" com o meu país - estamos muito pouco presentes lá fora. Falta a marca "Portugal" nos supermercados, no cinema, na tv,...
ResponderEliminarObrigada a todos pelos olhares que deixaram aqui.