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28.8.09

Outros sonhos

Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se impiriquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia

Belo e sereno era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris inertes no chão
Falavam de astronomia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
E a polícia já não batia

De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava
Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias

27.8.09

Não fora o mar



Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.

Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.

Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.

Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.

Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.

Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.

Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.

Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,

Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"


[Imagens registadas com a minha pequena Canon Digital IXUS 800 IS]

26.8.09

Negócio das piscinas: Bloco toma iniciativa de apresentar queixa-crime no MP e participação ao TC

«O Bloco de Esquerda anunciou hoje, através da cabeça-de-lista do partido nas próximas eleições autárquicas em Aveiro, Catarina Gomes, que vai apresentar uma queixa no Ministério Público (MP) para "avaliar a legalidade" do chamado "negócio das piscinas".
Seguirá também uma participação no Tribunal de Contas (TC) porque "independentemente da legalidade" a venda de parte do complexo "é lesivo para o interesse públicos".
Catarina Gomes, que estava acompanhada do número um da lista do Bloco pelo distrito nas eleições legislativas, Pedro Soares, considerou "indispensável" estas denúncias, "apesar" do processo vir a ser objecto de investigação da Inspecção Geral da Administração Local (IGAL) a pedido da Câmara - embora, alega o Bloco, o processo esteja incompleto, sem segunda parte do negócio, respeitante às maias valias do Beira-Mar na revenda – bem como de investigações já confirmadas pela PJ de Aveiro.
O Beira-Mar não chegou a pagar as piscinas, pelas quais já recebeu 700 mil euros do novo proprietário, alegando dificuldades de tesouraria e problemas administrativos ao nível bancário, o que levou a edilidade a ponderar a nulidade do negócio.
“É contra esta politica de subalternização do poder público para com privados que o Bloco se insurge”.
Segundo o Bloco, as dívidas ao Beira-Mar deveriam ter sido englobadas no empréstimo bancário.
O valor cobrado também voltou a motivar reparos. “O executivo alegou na Assembleia Municipal que a venda era pelo valor do mercado, agora diz que foi a preços baixos para a especulação imobiliária pagar ao Beira-Mar. Há aqui uma falta de verdade e por outro lado estas práticas são ilegais”, disse o candidato a deputado Pedro Soares.»


Fonte: Notícias de Aveiro

(Ainda sobre a Conferência de Imprensa do BE: ver Terra Nova - 105 FM)
(Adenda dia 27-08: ver Jornal de Notícias e Público)

25.8.09

Negócio milionário

Chegada de férias, leio a notícia que esperava desde Julho!

«A Polícia Judiciária de Aveiro investiga um negócio irregular de 2,5 milhões de euros feito entre o presidente da Câmara de Aveiro, Élio Maia, o dirigente do Beira-Mar e uma empresa imobiliária, no qual o cofre da autarquia ficou sem cerca de 1 milhão e 300 mil euros. Há suspeitas de financiamento ilegal ao Beira-Mar, através de uma verba-fantasma de um terreno.

O negócio foi feito em tempo recorde no notário, na madrugada de 18 de Julho de 2009. Élio Maia, presidente da Câmara de Aveiro, vendeu os terrenos com piscinas ao Beira-Mar por cerca de 1 milhão e 300 mil euros e, na mesma madrugada, o presidente do clube, Mano Nunes, vendeu esses mesmos terrenos à empresa imobiliária Nível Dois por 2,5 milhões. (...)

Élio Maia é recandidato à presidência da Câmara de Aveiro, pela coligação PSD-CDS. Nos cartazes de campanha, diz: 'É quem resolve' e 'é quem paga', entre outras promessas. (...)

Os terrenos das piscinas ficam numa zona central da cidade, perto do hospital distrital e de uma escola. Consta que o hospital privado da Trofa terá feito uma oferta de mais de cinco milhões de euros à autarquia.»
[
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